A difícil vida fácil da Irlanda

A Irlanda é a atual presidente da União Européia.

E acabou de avisar que vai lançar uma proposta para banir o pagamento por sexo em toda a Europa.

Pois é. Como se não bastassem os tantos empregos e profissões desaparecendo diante da revolução tecnológica, ainda aparece um país querendo acabar com a prostituição.

As associações de prostitutas de toda a Europa deveriam se unir para acabar com esse absurdo. Aqui vão algumas sugestões.

1 – Consigam o apoio de cidades como Hamburgo e Amsterdam. Sem a prostituição o turismo em Amsterdam vai ficar restrito aos freqüentadores dos bares de haxixe e maconha. Hamburgo, nem isso.

2 – Invoquem o respeito à história universal. A Europa é o berço da civilização ocidental. E a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Combinam como pão e manteiga.

3 – Usem Maria Madalena como símbolo. Se Jesus a perdoou e talvez a tenha até amado, quem é a Irlanda para acabar com suas discípulas?

4 – Veiculem comerciais apocalípticos, racistas, o que for necessário. Por exemplo, mostrem um imigrante turco, de mãe judia e pai marroquino, negro, muçulmano, feio, pobre, desdentado e se possível em andrajos. Em off, o locutor avisa: “Sem putas, este homem vai comer a sua filha”.

5 – Lembrem à Irlanda que, durante a grande fome da década de 1840, as tataravós de muitos dos parlamentares faziam “pequenos serviços” do gênero para conseguir batatas e matar a fome.

6 – Apelem para seu senso de auto-preservação: se acabarem as putas, onde vão arranjar políticos?

7 – Utilizem a rede de organizações não-governamentais e distribuam camisas e adesivos num grande esforço de “buzz marketing”. Algumas sugestões: “Quer comer de graça, vá aos restaurantes do Garotinho”, “O que é bom custa caro”, “Mais barato que um divórcio”, “Sua mulher dá de graça. Vale a pena?”, “O mundo já tem manequins demais”.

8 – Mandem os irlandeses à puta que os pariu.

Originalmente publicado em 21 de janeiro de 2004.

Mulheres imperfeitas

Longe de mim sair por aí dizendo que o importante é a beleza de dentro. Eu sou redator, não sou decorador de interiores.

Por isso uma mulher bonita, para mim, é o ápice da criação divina. Quando o diabo tentava Jó, quando o diabo dizia que Deus fez isso e aquilo de ruim, Jó poderia ter respondido: “É, mas fez a Isabel Fillardis também”. E então o diabo sumiria numa nuvem de enxofre e Deus poderia parar de fazer aquela sacanagem com ele.

Confesso: a beleza de uma mulher é a primeira coisa que olho. É a segunda e a terceira, também. Dependendo da mulher, pode ser a quarta. E a última.

Mas a beleza é variada. Quando me perguntam qual o tipo de mulher de que gosto, eu nunca sei responder. Não sei porque essa pergunta não tem resposta. A beleza está em várias coisas: num olho, num olhar, numa boca, na curva das costas, no jeito como ela se senta e cruza as pernas, nas mãos — é, e nos peitos e na bunda também.

Mas sei qual o tipo de mulher me atrai menos: aquela perfeita, em que você não consegue achar um só defeito.

ModiglianiTem coisa menos sexy do que uma mulher perfeita?

Uma mulher perfeita parece feita de plástico, esculpida por um artista de talento. É obra humana, não há nada de divino nela, porque Deus, se existe, sabe das coisas e não se deixa cair nessas armadilhas de perfeição. Sua beleza é tão estrondosa que não deixa espaço para mais nada, sequer para a admiração, quanto mais para aquela sensação de frio na barriga, aumento dos batimentos cardíacos e uma quase incontrolável vontade de pegar.

Mulheres perfeitas reforçam minha crença na beleza, sim, e nada mais. Que bom que elas existem. Mas não é com elas que que sonho à noite. É como se essas mulheres esculpidas em mármore não ofegassem, como se seus cabelos não tivessem perfume, como se sua pele não pudesse ficar marcada pelas minhas mãos.

Olho para uma mulher perfeita como olho para um quadro de Renoir: lindo, maravilhoso, ficaria bem na minha parede. Mas para aquela mulher imperfeita que não gosta de sua bunda, ou se acha acima ou abaixo do peso, os pensamentos são outros; certamente menos nobres — ou talvez mais — que a simples apreciação das Belas Artes.

Mas talvez tudo isso seja só preconceito. Graças a Deus, nunca conheci uma mulher perfeita. Todas elas são deliciosamente imperfeitas: têm nariz arrebitado ou grande demais, seus seios não são exatamente o que elas sonharam, reclamam da celulite e da barriga que não é dura como uma tábua.

Talvez, no fundo, elas saibam que nada disso importa tanto. Talvez saibam que é justamente isso que faz a sua beleza: elas são reais. São de verdade, parecem de verdade. Mulheres imperfeitas são possíveis.

Originalmente publicado em 4 de abril de 2004.

Mme. Bovary n'est pas moi

Ainda estou maravilhado com os comentários ao post sobre a vingança da Legião de Onan.

Os dois foram escritos para uma mesma pessoa específica, que inclusive sabe disso e deixou comentários.

Ou seja: era um caso real. Mais que uma opinião, era uma observação de um fenômeno que me parece cada vez mais comum. Isso não significa, claro, que se aplique a todo mundo. Mas os comentários me deixaram com uma certa dúvida.

Mesmo que os dois posts tenham deixado claro que era uma generalização e, como tal, absolutamente imprecisa se aplicada à totalidade das mulheres, choveram comentários femininos revoltados. E o conteúdo da maioria deles foi curioso: não negaram que mulheres assim existem. Em vez disso, basicamente, fizeram um esforço para deixar claro que elas não eram assim.

É uma das razões pelo qual o segundo post (que seria republicado de qualquer forma, mas teve sua publicação adiantada porque, como adivinhou o Donizetti, eu não poderia deixar de colocar um pouquinho mais de lenha na fogueira) foi muito menos comentado. As pessoas simplesmente não se reconheceram nele. E no entanto é apenas outra face da mesma moeda. Mas elas não se reconheceram adolescentes, e então o post passou em brancas nuvens.

O fato é que não entendo direito como se pode negar a primeira e não negar a segunda, já que elas são a mesma pessoa.

Fiquei imaginado a mulherada lendo “Madame Bovary”, quando foi publicado, e reclamando: “Nós não somos assim!”, embora secretamente continuasse a sonhar com um Léon e, às vezes, caindo nas garras de um Rodolphe. Ou lendo “Um Estudo de Mulher”, de Balzac, e o acusando de machista e preconceituoso, ou chamando o pobre Bianchon de frustrado.

Por exemplo, a Daniela Silva, que ultimamente tem pulado de caixa de comentário em caixa de comentário em uma cruzada feminista bastante barulhenta, viu nos comentários um arraso completo deste pobre blogueiro, como se uma alcatéia estivesse mordendo meus calcanhares, e me deu condolências pela minha adolescência. Obrigado, mas eu já disse algumas vezes aqui: a minha adolescência foi muito boa. Talvez o fato de ter começado a trabalhar cedo e ser liderança estudantil durante boa parte daqueles anos tenha quebrado um grande galho. Não sei. Isso não está em questão. Mas a vontade de “vingança” das feministas mais agoniadas é tão grande que as pessoas, às vezes, perdem a noção real do texto e se congratulam com quimeras que julgam ver. Porque algumas pessoas se identificaram com o texto, eu teria que me identificar também.

O comentário mais sensato foi o do Ricardo Antunes da Costa, provavelmente pouco interessado em fazer de posts cavalos de batalha em função de crenças, e vendo as coisas com um distanciamento sábio que seria recomendável para todos.

No fim das contas, e explicações desnecessárias à parte, o fato é que raras vezes ri tanto com um conjunto de comentários como ri agora.

E a razão é uma só.

Eu nunca vi tanta gente passando recibo.

(Mas se mesmo assim a revolta continuar grande, a Ninfeta do Demônio está fazendo uma boa promoção.)

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Ontem este blog começou a veicular anúncios do Google AdSense. A intenção é fazer com que os visitantes via mecanismos de busca, que compõem uma parte expressiva dos visitantes e portanto consomem boa parte da largura de banda disponível, ajudem a pagar os custos de hospedagem.

Por isso, os anúncios só serão veiculados nos arquivos individuais. É uma maneira simples de evitar que os anúncios incomodem os leitores do blog, e dará mais relevância ao que for veiculado.

Excedentes eventuais, nos quais não acredito muito mas que, se aparecerem, serão bem vindos, serão usados para atacar feministas, rir de direitistas, desrespeitar católicos e ofender defensores dos animais.

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Alguém que entenda de Movable Type e de HTML pode me dar uma mãozinha na redefinição dos templates deste blog?

As Adolescentes de Trinta

Quando Balzac publicou “A Mulher de 30 Anos”, um livro de resto absolutamente medíocre, alguém disse que ele deu uma sobrevida amorosa às mulheres, numa época em que era comum se casarem aos 15 anos. Mas se Honoré fosse vivo hoje, teria que escrever outro livro: “A Adolescente de 30 Anos”.

De uns anos para cá as revistas, quando lhes falta assunto, falam do novo homem, da crise por que eles passam. (Falo eles porque ainda sou do tipo antigo; defendo veementemente o direito feminino de ir às ruas lutar pelos seus direitos, desde que deixem minha comida pronta.)

O que as revistas parecem não notar é a crise por que passam tantas mulheres nos primeiros anos do século XXI. Com exceções, uma mulher que chega aos 30 anos solteira começa a sentir um desespero inexplicável, uma espécie de revival da histeria do final da era vitoriana diagnosticada por Freud. É como se sentissem incompletas, como se lhes faltasse algo. A conta que fazem de suas vidas precisa de um fator que nem sempre está lá.

Esse fator é um homem.

São adolescentes aos 30 anos. Não percebem, mas têm o mesmo jeito de olhar a vida que tinham aos 17, como se não houvesse passado tanta água sob a ponte. Sem querer ser cruel, é como se o fato de amadurecerem emocionalmente antes dos homens implicasse uma estagnação depois disso. Chegam primeiro à adolescência e demoram a sair dela — muitas vezes direto para a velhice. Algumas, sem perceber, continuam fazendo aos 30 as mesmas exigências em relação aos seus parceiros que faziam quando ainda estavam na escola e alimentavam paixões imortais pelos garotos mais populares. Mudam apenas detalhes; já não querem um atleta, e sim um sujeito capaz de dividir os encargos da vida com elas ou, mais comumente, alguém “emocionalmente estável” [infelizmente, em 32 anos de vida ainda não vi ninguém emocionalmente estável de verdade, apenas instáveis em repouso]).

O resultado é apenas mais solidão. “Nossa, ela acha que vai encontrar homem na night!”, me disse uma das adolescentes. Enquanto isso, no trabalho não há homens interessantes, e os poucos que há são casados; sempre são. Por um processo de exclusão, vão eliminando todas as possibilidades de encontrarem alguém. Não importa o desespero: elas continuam criando para si torres de Rapunzel absolutamente intransponíveis.

Elas não se parecem se sentir à vontade em seus papéis. Para boa parte delas, a obrigação de independência parece um fardo insuportável a ser carregado. Se os homens foram achacados nas últimas décadas, com a obrigação de mostrarem sentimentos de forma feminina, as mulheres ainda tentam se acostumar a um mundo que deu uma certa igualdade a elas.

Alguém deveria dizer a essas moças umas coisas básicas, que elas deveriam saber.

Por exemplo, que todo o seu relacionamento com o sexo oposto é baseado em códigos que elas definem na adolescência. Muitos adolescentes do sexo masculino labutam anos infrutíferos até descobrirem esses códigos (sem contar, claro, os afortunados que os conhecem instintivamente). Mas depois que descobrem, o jogo acaba. Vira uma brincadeira, em que é necessário dizer apenas a coisa certa na hora certa. (Certo, estou simplificando e há muitas outras filigranas; mas estas são as linhas gerais, e são suficientes para um post em um weblog). Daí tantas mulheres infelizes, que não compreendem ou aceitam o simples fatos de existirem tempos e interesses diferentes entre duas pessoas.

De certa forma, as Adolescentes de Trinta criam seus cafajestes. Depois não sabem lidar com eles, porque ao criarem seu Frankenstein, achavam estar criando o novo Adão. E esqueceram que, entre Eva e Adão, havia uma serpente oferecendo uma maçã.

Originalmente publicado em 14 de novembro de 2003.

A vingança da Legião de Onan

Para que um homem tenha realmente dificuldades em arranjar mulher, ele precisa ser o infeliz dono de uma combinação perversa: adolescente, sem dinheiro e sem um lugar aonde levá-las. Se não tiver uma dessas variáveis, ele tem grandes chances de se dar bem regularmente.

Isso, claro, lembra a todos nós os péssimos tempos da adolescência, em que normalmente somos obrigados a nos voltar para soluções, digamos, pouco ortodoxas para resolver o problema da carência sexual. Essa fase negra costuma passar a partir do momento em que chegamos à casa dos 20; até lá é um martírio comparável ao de Tântalo, que só o otimismo crônico e ignorante da adolescência consegue fazer suportável.

Mas hoje percebi que todos nós, adolescentes um dia alistados na Legião de Onan, como a batizou Luís Fernando Veríssimo, temos um bom motivo para nos considerar vingados.

A nossa via crucis começa e termina na adolescência, e passamos por ela com mãos calejadas, espinhas na cara e cheiro de perfume barato, de preferência Avon ou comprado naqueles catálogos da Hermes, que nos impregnam a partir das empregadas domésticas que encoxamos nas escadas, nas ruas escuras e debaixo das árvores. Mas a redenção chega assim que passamos a ter um mínimo de experiência e segurança.

E é justamente então que o calvário feminino começa.

Olhe à sua volta. Você vai ver o número cada vez maior de mulheres em torno dos 30, cada vez mais ansiosas e preocupadas porque acham que “não há mais homem no mundo”. Para elas, metade não presta. Outra parte está casada. E o resto tem preferências sexuais ainda mais heterodoxas que as dos adolescentes.

Se — generalizando e correndo o risco inerente a qualquer generalização — uma mulher não está casada ao se aproximar dos 30 anos, a percepção de que suas chances de estabilização diminuem a cada novo dia, a cada nova ruga, a cada aproximação dos seios em direção à terra, a cada nova protuberância de celulite a deixa completamente angustiada.

O pior é que, à medida que o tempo passa, a angústia vai aumentando. Além do que dizem ser a escassez masculina, elas ainda continuam escolhendo bastante — esse não dá porque é baixinho, esse não tem futuro, esse… E, paradoxalmente, quando escolhem, muitas vezes escolhem errado. O resultado é o aumento da descrença no sexo oposto, que infelizmente cresce no mesmo ritmo que a certeza de que é impossível viver sem eles.

Não sei se a miséria do gênero feminino, e sua progressiva vulnerabilidade, é propriamente uma vingança; é algo que não dá para racionalizar. Mas, lá dentro, aquele adolescente com marcas de batom vagabundo no pescoço e os dedos calejados pelas acrobacias sob incontáveis sutiãs dá uma risadinha cruel e satisfeita.

Originalmente publicado em 17 de agosto de 2003

Os filhotes de Bento XVI

Ih, rapaz, o Pedro Sette Câmara se doeu com o último post.

Num blog chamado “O Indíviduo”, que emana um certo cheiro de Olavo de Carvalho e tem como epígrafe uma frase do papa Bento XVI, o sujeito começa dizendo que eu sou feio — se é que entendi bem a ironia, porque nunca se sabe se ele está falando sério ou não.

E, poxa, essa me baqueou. No fundo do coração. Porque o Pedro não sabe, mas essa foto aí em cima é a melhorzinha que eu tenho. Tenho outras ainda mais feias. Isso dói, meu filho; o padre devia ter te ensinado a não magoar as pessoas assim. Vou bater a cabeça na parede assim que acabar de escrever isto aqui. Na verdade, só estou respondendo ao seu post por causa disso.

Mas vamos lá.

O melhor mesmo é o adjetivo que o Pedro usa mais abaixo para definir a minha atitude: “mentalidade mimada”. É prima da “superioridade” que ele julga, talvez freudianamente, ver em nós ímpios. Argumento fácil, bobo, que tenta transferir para nós, depravados sem fé, uma noção que na verdade é deles. São eles que julgam que a sua fé nos ditos da Igreja os tornam superiores a essas tentações carnais do demônio, e são eles que pregam soluções imbecis como a “abstinência” em detrimento de medidas preventivas como o incentivo ao uso da camisinha. Pior: dão à camisinha um poder que ela não tem. É nessa tergiversação e nessa inversão da realidade que o proselitismo desses desvairados traz problemas.

O post do Pedro me deixa com um problema nas mãos porque, como disse nos comentários ao post anterior, eu não discuto seriamente com esse pessoal. Não discuto porque é lhes dar uma legitimidade intelectual que eles não têm; não discuto porque, em seu proselitismo fanático, eles tentam impor ao mundo uma visão irreal e prejudicial. Não por ignorância, mas por obscurantismo. Há 400 anos, era esse pessoal que fazia Galileu voltar atrás e dizer que o sol girava em volta da terra, porque se o Homem era o centro da Criação era assim que as coisas tinham que ser. Sua postura atual contra o uso de preservativos é só a versão recauchutada — e, graças a Deus, menos poderosa.

Traduzindo: eu não discuto a sério porque não reconheço inteligência nos seus argumentos. Mais que isso, eu os acho absolutamente nocivos: misturam questões de saúde pública com uma noção específica e inalcançável do mundo que só diz respeito a eles.

Esse tipo de militante religioso é deletério por ser obtuso e por querer tornar sua obtusidade universal.

Embora reconheça ingenuidade no Bruno, ele basicamente repete os mesmos argumentos. Tem o cuidado de citar sua namorada, coitada, que não tem nada a ver com a história, talvez para evitar que eu o chame, também, de “donzelão” (mas me deixa com outras perguntas, também). O que é engraçado, porque se eu sou o “donzelão dos argumentos”, os deles são mais rodados que Maria Madalena; a vida é engraçada. A base deles é a seguinte: “a camisinha incita à promiscuidade”. A única diferença é que o Pedro estrutura sua argumentação de maneira formalmente mais sofisticada, inlusive usando a palavra-mãe de todas as argumentações, “ora”. Pedro, eu acho esses “oras” podres de chique.

Quanto à citação que o Pedro me acusa de fazer sem saber (Mater et Magister em vez de Mater et Magistra), na verdade não vem da encíclica papal, que nunca li (mas confesso ter tido uma queda impressionante por pornografia na adolescência, Pedro). Vem de uma escola com esse nome. Mas fiz uma busca rápida no Google, e as 12 páginas com resultados que citam a encíclica indiscriminadamente pelos dois nomes talvez ponham um pouco de dúvida na certeza cheia de fé do rapaz. Mas eu é que não vou brigar por esse detalhe, nem tampouco ler tudo isso só para provar que o Pedro fez uma correção errada. Se estou errado, tudo bem. Essa simples página do Vaticano, usando as duas expressões, talvez seja o suficiente para mostrar uma coisa: que eles têm uma tendência a encarar o seu jeito de ver as coisas como o único existente.

P.S.: Pedro, adorei os “sonhos erótico-profanadores”. Ui.

Mater et magister

O Bruno caiu aqui de pára-quedas e deixou um longo comentário a um post, que comento abaixo.

Infelizmente a mídia conseguiu fazer uma lavagem cerebral nas mentes obtusas de muitos desinformados (grande maioria da população) sobre o tema “Igreja Católica, aids e uso da camisinha”. Colocando a Igreja como uma instituição retrógrada e ignorante, ridiculariza-a por ser contrária ao uso dos preservativos. Os chamados meios de “informação” (neste assunto são desinformantes e deformantes), obscurecem os verdadeiros motivos da discordância da Igreja com relação ao uso do preservativo, buscando colocar a população contra a mesma. Iludindo os telespectadores, leitores, etc, dão a entender que a Igreja condena simplesmente o uso do preservativo e nada mais. Ora, por que não entrevistam uma autoridade da Igreja? Por que colocam em um horário de grande pico de audiência alguém capacitado para falar em nome da Igreja?.

Boa pergunta, Bruno. Não sei. Talvez porque, da última vez que colocaram, um padre italiano falou que reprodução assistida é coisa do demônio. Quem sabe?

Mas as pessoas não costumam falar da ignorância da Igreja Católica. Elas sabem que sua postura deriva de um compromisso doutrinário com uma determinada concepção de vida. Elas só chamam de retrógrada, mesmo.

As propagandas e o programa de combate a aids somente fomenta que devemos nos proteger das doenças, do risco de gravidez indesejada. Mas como ficaria os valores morais? Estes não fazem parte das propagandas. O que importa é “se divertir”, é “aproveitar o carnaval” é “curtir a vida” é “não importar de que lado esteja (anjo ou diabo)”, mas com a final frase “desde que use camisinha”. Ou seja, eu usando camisinha eu posso ter uma vida libertina, sexo sem compromisso, tratar as mulheres como objeto, adulterar, etc, pois eu estarei seguro, e é isto que me importa, e o resto que se dane. Quando se entrega o preservativo ou estimula o seu uso é como se dissesse:
_ Você é livre pra fazer o que quiser, use isto (camisinha) assim estará “garantido” a sua segurança.

Se eu usar camisinha eu posso ter tudo isso aí? Libertinagem, sexo sem compromisso, tratar mulheres como objeto? Você promete? Onde é que compra? Posso comprar mais de uma? Posso dar uns tapinhas na bunda, também?

Certa vez pude comprovar a influência que as campanhas têm sobre as pessoas. Logo após receber 2 preservativos da campanha, imediata e pretendidamente joguei-os fora. Vendo o que fiz, uma das pessoas da campanha, em tom ignorante, me perguntou porque fizera aquilo, que o preservativo não era para ser jogado fora, que se eu não quisesse usá-lo que desse a outra pessoa. Disse àquela pessoa que uma vez que os preservativos fossem meus poderia fazer deles o que quisesse, como não preciso deles, os joguei fora. Não dei a outras pessoas para que essas assim como eu não se sentissem pressionadas a usá-los e o que tinha feito somente foi um teste para comprovar o que eu já havia pensado. Recolhendo os preservativos, sem falar mais nada os deu a outro. A atitude dela é apenas o reflexo do que pensa a maioria das pessoas em relação ao uso dos preservativos. Uma vez que eu tenha a camisinha à mão eu tenho que utilizá-la.

Felizmente a Igreja Católica não faz mais com que seus prosélitos queimem hereges e blasfemos. Agora eles simplesmente jogam camisinhas fora. E o tom da moça não foi “ignorante”: foi de incompreensão diante da estupidez. No mínimo da falta de educação.

De qualquer forma, se a simples posse de uma camisinha lhe faz sentir pressionado a utilizá-la, eu fico pensando nas noites em claro que você tem passado em sessões de auto-flagelação, tentando tirar aqueles pensamentos impuros de sua cabeça, tentando domar aquele calor que sobe pelo seu corpo.

Pior: não é nem uma dominatrix que está fazendo essa sacanagem com você. Ui.

Há anos atrás eu lia numa revista adolescente, um rapaz de mais ou menos 16 anos relatando como foi a 1ª relação sexual que teve quando tinha 14 anos, “estava sozinho com minha namorada na casa dos pais dela, lembrei que tinha ganhado do MS 1 preservativo, perguntei a ela se estava afim de transar, ela topou e aí rolou”. Somente pela linguagem, com que este rapaz relata o assunto, já se denota a imaturidade e irresponsabilidade perante o modo com que trata coisas sérias, e pior, as expõe a terceiros. Se esta camisinha tivesse se rompida (o que não é raro), poderia ter havido mais uma criança de 14 anos grávida e talvez até como uma doença sexualmente transmissível. Se este ao invés de camisinha tivesse recebido instrução sobre valores humanos, não teria corrido este risco.

Bruno, senta aqui do meu lado. Está na hora de você aprender uns fatos sobre a vida, que o padre não pode te ensinar.

Em primeiro lugar, não é bem assim que as coisas funcionam, tá? Bem que queríamos: já imaginou você, do nada, dizer para a gostosa à sua frente “olha, tenho uma camisinha, vamos transar?” e ela aceitar? Deus, isso seria o paraíso. Mas não é assim que as coisas acontecem e o rapaz provavelmente omitiu uma porção de detalhes.

Como você é leigo no assunto eu vou explicar.

Normalmente, no caso de dois namorados, é preciso um longo processo para que se chegue a esse momento. Algum tempo de reconhecimento, sabe como é — bem, talvez não saiba.

Primeiro uma mão nos peitinhos, prontamente repelidos. Mas não desista, quem não arrisca não petisca. Continue tentando. À medida que a intimidade aumenta, e com ela a confiança, as coisas seguem seu curso naturalmente. Mãos. Bocas. São adolescentes, é tudo novo, é preciso um pouco mais de tempo, você entende. Até que, depois de dias planejando o que fazer — como aquele apaixonado por uma moça que mora no cu do judas e toda noite aparece na porta da casa dela, dizendo que “eu estava passando por perto…” — ele aparece com uma camisinha, isso depois de saber que a moça está subindo pelas paredes.

Não incluo aqui, claro, os casos fortuitos de sexo casual, libertinagem e etc. Esses só acontecem quando você tem muita sorte. E, claro, quando você tem uma camisinha no bolso, cujo poder demoníaco lhe força a fazer coisas indizíveis e absolutamente indecentes.

Finalmente, como é que o pobre rapaz, ainda virgem e na flor dos seus 14 anos, podia já ter uma doença venérea? Você realmente implicou com o sujeito.

Quando a Igreja exorta a seus fiéis a não usarem camisinha, o que Ela pede aos solteiros é que sejam castos, e deste modo não pratiquem a fornicação, aos casados, o adultério e aos homossexuais o homossexualismo. Do mesmo modo aos casados, Ela pede a castidade conjugal, que não use de maneira descontrolada o sexo com a finalidade somente do prazer, que não tente controlar a vida usando o preservativo como método antincepcional.

A essa altura eu tenho uma grande dúvida e várias hipóteses:

Hipótese 1: Você é casado e só dá no couro da patroa com fins exclusivamente reprodutivos.
Hipótese 1.1: Você teve umas três relações sexuais em toda a vida, porque leite, escola e planos de saúde estão pela hora da morte, e isso é broxante;
Hipótese 1.1.1: Você agradeceu a Deus por ela não ter engravidado em uma dessas e você teve a chance de dar mais uma, que não estava no roteiro, e depois teve que se penitenciar por ter se alegrado com algo tão torpe.
Hipótese 1.2: Você está cheio de filhos e eu quero ser seu amigo, porque você é rico e eu, como disse ao Brigatti, já estou de saco cheio de só ter amigo pobre.

Hipótese 2: Você é solteiro.
Hipótese 2.1: Você é donzelão e vive às custas de muita oração e banho gelado.
Hipótese 2.2: Você é um punheteiro.
Hipótese 2.2.1: Isso aí também não é pecado?

Finalmente, por uma convenção da gramática portuguesa, os pronomes relativos a Deus usam maiúsculas. Os da Igreja, não. Mas parece que para muita gente há uma confusão grande entre Deus e Igreja.

O erro (pecado), não estará no uso do preservativo, mas no motivo porque se usa. Ou seja, se uma pessoa solteira pratica sexo com outra solteira, independente de estar usando ou não camisinha o pecado foi a fornicação. Ou se uma casada tem relacionamento extra conjugal, seja o sexo feito com camisinha ou não o pecado foi o adultério. Quando alguém não tendo domínio de si adultera ou fornica, torna-se necessário o uso do preservativo, não como um método 100% seguro (pois não é), mas com a intenção de evitar um mal maior, como uma doença sexualmente transmissível, e uma gravidez seguida de aborto (observe como um erro conduz a outros).

Vou te dizer uma coisa, Bruno, e não me leve a mal por isso, porque eu só quero o seu bem. Depois de ver as conseqüências terríveis que você inconscientemente associa ao sexo (doenças venéreas, aids, abortos, danação eterna no segundo círculo do inferno), e ver o tanto de culpa que você carrega, eu juro que se fosse mulher ia querer distância de você. Para evitar ser obrigada a lhe colocar um par de chifres na testa. Sabe como é. Eu ia ter necessidades, você entende.

Uma mulher (ou homem) que suspeite que seu (a) cônjuge a (o) esteja traindo tem não só o direito de usar preservativo desde que seja por motivos de preservação da saúde. Como ação primária deve abster-se do sexo e pedir exames que comprovem que seu (a) cônjuge esteja livre de doenças. A Igreja jamais fará campanha a favor da camisinha, pois vão distorcer, e falar que Ela liberou o sexo livre.

E aí, faz o quê? Pede o divórcio?

Ah, desculpe. Esqueci. A Madre Educadora não permite o divórcio.

RESUMINDO:
A Igreja Católica como Mãe e Educadora apresenta o melhor e mais barato programa de combate a todas as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez fora do matrimonio. Este programa é baseado não na distribuição irresponsável de preservativos, mas na educação, valorização da população. Mas a mídia como se fosse o pior vírus, destorce, prestando um grande serviço de desinformação. Culpando a Igreja pela disseminação da aids, ela (mídia) apresenta um programa caro e fracassado. Quem ouve a igreja não adultera, fornica e pratica o homossexualismo, portanto não precisa usar preservativo. Os que não ouvem, pouco vão se importar com o que a Igreja pensa sobre a camisinha. Dizer que a Igreja terá que pedir perdão às vítimas da aids é uma grande hipocrisia.

Certo.

Agora, olha, fala baixo. Porque se você falar muito alto o padre Joseph Smith, daquela paróquia em Boston, vai te ouvir. E aí vai se atrapalhar no boquete que está pagando naquele menininho.

Mas finalmente concordo com você: a Igreja não tem que pedir perdão aos portadores de HIV. Eles deram ouvidos às besteiras que ela disse porque quiseram.

E já que concordamos em uma coisa, e podemos nos considerar amigos, queria te pedir um favor: você conhece alguma freira gostosinha? Me apresenta? Tenho até vergonha de confessar, mas fico imaginando como deve ser, ahn…, educativo bater com um crucifixo na bunda de uma freira, hábito levantado, enquanto… Ah, esquece.

Que tem que pedir o perdão são os que incentivam o “sexo livre” o “aproveitar o carnaval” o “faça sexo seguro” “etc, etc, etc”. A camisinha tem um índice de mais ou menos 83 a 93% de segurança, a castidade que a igreja pede a seus fieis tem 99,9999% (porque nada é 100%) de segurança. Termino com a frase de um padre católico: “A CAMISINHA PREVINE A AIDS, A CASTIDADE E A FIDELIDADE ACABAM COM A AIDS”.

Um dia vão te mostrar as pesquisas que mostram que aqueles que dizem se comprometer a praticar a abstinência têm os mesmos índices de gravidez e doenças venéreas que as pessoas, digamos e sem ofensa, normais. Mas aí você vai dizer que elas não ouviram a voz da Mãe e Educadora.

Em vez disso, ouviram os gemidos, as juras de amor, sentiram o cheiro do suor.

Pobres coitados. Se perderam diante das portas do paraíso. Rezemos por suas almas.

O comunista e os especuladores

Michael Jackson sempre foi a prova de que o comunismo não acabou: ele continua comendo criancinhas.

Não gosto dele. Não gosto da idéia de comprar um disco dos Beatles e lhe pagar royalties. Sua música não me interessa, e seus tempos de brilhantismo se esgotaram em Thriller, uma boa mistura de música negra e rock. Como o resto do mundo, olho para o seu rosto como quem olha para um circo de horrores, entre enojado e fascinado pelo que ele tem de bizarro, de realidade distorcida.

Não tenho nenhuma dúvida de que ele se divertiu com o menino que o processa agora. Não tenho dúvida de que a grande maioria, se não a totalidade, dos depoimentos a seu favor são comprados, e caro.

E no entanto estou torcendo por ele no julgamento que se arrasta.

Jackson é doente. É um doente burro, ainda por cima, porque para evitar complicações bastaria a ele pegar um órfão de um país qualquer do terceiro mundo para suas brincadeiras que, e nisso eu acredito, ele julga razoavelmente inocentes — o que é uma mão boba aqui, uma boca ali? Pedofilia se dá bem com poder econômico. Pedófilos de todo o mundo vêm fazendo isso há séculos, desde que o mundo é mundo.

Não acho que ninguém em sã consciência tenha alguma dúvida de que tudo aquilo foi armado; que a mãe do cucaracho que apareceu segurando a mão de Michael Jackson em um documentário sabia o que estava fazendo ao mandá-lo para Neverland, que ela entregou o filho a um pedófilo para tirar dinheiro dele — e se o primeiro caso, aquele do início dos anos 90, foi resolvido em um acordo de cerca de 30 milhões de dólares, este certamente daria mais dinheiro. Como qualquer especulador ela fez um investimento, e seu capital de giro foi seu filho.

É difícil acreditar que pedófilos, a raça mais abjeta encontrável em uma humanidade que se esmera em apresentar horrores sempre renovados, possam ser principalmente vítimas. O julgamento de Michael Jackson prova que sim.

Não que Jacko seja inocente. Sem dúvida nenhuma ele merece ser castigado, tanto quanto merece tratamento. Mas a idéia de que sua desgraça é causada por uma mulher sem escrúpulos, uma mulher que vende o seu próprio filho, consegue ser mais enojante que a pedofilia do tarado de Neverland.

Em tese, a justiça serve para proteger a sociedade de ameaças. Jackson, certamente, é uma delas. Mas serve também para evitar que especuladores gananciosos e sem escrúpulos predem suas partes mais frágeis — e, por alguma razão esquisita, Jackson também é uma delas.

Falta alguém no banco dos réus, e esse alguém é a mãe mais canalha, menos merecedora desse nome que apareceu em muito tempo.

Aquele povo de Goiânia

Depois dizem que é implicância minha com a capital de Goiás.

Comentário recebido (e bloqueado, porque este é um blog de família) a um post que sequer sabia que Goiânia existe:

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Não são só as meninas de Goiânia, Bia. Os meninos também.