Durante a ditadura, o que se convencionou chamar de esquerda era, na verdade, um balaio de gatos de cores muito diferentes sob um guarda-chuva só, o MDB. ‘Na mesma agremiação havia de tudo: do Orestes Quércia ao pessoal do PCB, e mais tarde até do PCdoB.
A vida era muito simples. Para o pessoal da ARENA e, principalmente, para os militares que sustentavam um regime que apodrecia a cada dia, qualquer um que não apoiasse a ditadura era um comunista perigoso.
Com o fim da redentora o que se viu foram alguns anos de indefinição ideológica, em que gente que era do MDB se revelou mais próxima do PDS. Foram anos curiosos. E depois que o muro de Berlim caiu, a confusão ficou ainda maior.
Mas aos poucos as pessoas com juízo foram percebendo que nem todo mundo que era de direita era um ultra-liberal egresso da TFP, e que nem todo mundo que era de esquerda era guerrilheiro. As pessoas seguiram adiante, renovaram o jeito como pensavam.
Isto é, algumas.
Depois de meses achando que ele era um sujeito situado confortavelmente no centro, acabo de ser surpreendido pela informação de que o Adriano é um ser de esquerda.
Eu sempre gostei do Adriano. Sempre respeitei o sujeito. Vivo dizendo que não gostaria de discutir com ele. Mas eu me recuso a permanecer na mesma lama. O meu raciocínio, mecânico e obtuso como o daqueles que descobriram que ele é um cripto-comunista, é o seguinte: se o Smart é de esquerda, se está mais próximo de Cuba que da Europa, eu vou ter que me redefinir como terrorista anarquista, algo assim. Vou ter que andar com coquetéis molotov na mochila. Vou andar de braços dados com a Heloísa Helena e dar showzinho em CPI.
A inteligência humana me impressiona mais e mais, a cada dia.