Remakes

Tem uns tantos filmes aí que eu gostaria que fossem refilmados. São aqueles que poderiam ter sido muito maiores do que foram, mas por uma ou outra razão, ficaram aquém do que poderiam, quando menos depois que alguns anos se passaram e pudemos ver como resistiram à ação sempre deletéria e canalha do tempo.

Highlander
Este é um filme redondo. Mas tem os defeitos da direção publicitária que era moda em sua época. Eu refaria o filme basicamente para corrigir isso, aproveitar a evolução tecnológica que sempre faz bem a filmes de ação, mas também para aproveitar a mesmice diretorial e fotográfica destes tempos novos . Mas como estaria com a mão na massa, aproveitaria para fazer um vilão menos caricato, mais sofisticado. Daria mais densidade dramática à relação com Hannah, a paixão não correspondida da menina salva não mais na II Guerra, mas no Vietnã — ah, tempo, esse infeliz que não para de passar. E elencaria George Clooney como Ramirez e Tom Hardy como McLeod.

 

Leon, o Profissional
Ao contrário dos outros filmes incluídos aqui, este é um excelente filme, bem feito, com boas atuações de Jean Reno e Gary Oldman e uma estreia estelar de Natalie Portman. Luc Besson tem altos e baixos em sua carreira, mas este é, definitivamente, um de seus melhores momentos. Eu na verdade refaria apenas uma cena do filme: aquela em que, ensinando Mathilda a se tornar uma assassina, Leon a faz atirar em um sujeito com uma bala de paintball. Eu os faria usar balas de verdade, mostrando o pouco valor dado por eles à vida humana. Mas no fundo o que eu queria mesmo era fazer, daqui a uns dez anos, uma continuação do filme. Faria da própria Portman uma assassina cinquentona, gasta pela vida, cínica, e a colocaria num relacionamento semelhante ao que ela teve com Leon. Mas agora ela destruiria o adolescente. Eu sou mau também.

Grease
Já escrevi aqui sobre a minha decepção ao ver o filme depois de ler o livro escrito a partir dele. A injúria foi agravada pela direção de Randall Kleiser, que levou para a telona os vícios dos telefilmes que fazia, com direito a vinhetinhas musicais entre uma gag e outra. Eu faria um filme a partir do livro de Ron de Cristoforo, uma comédia menos musical, com maior nexo narrativo, reforçando o deboche carinhoso com que ele revisita os anos 50. Seria um filme definitivamente informado pela aura do seriado “Anos Incríveis”, uma comédia sem nenhuma pretensão de ser engraçada, porque a vida já era engraçada o suficiente.

A Lista de Schindler
Nesse caso eu não refaria o filme, eu apenas reeditaria o seu final. 30 anos se passaram e ainda não me conformei com o final piegas e melodramático com que Spielberg conspurcou o que teria sido o seu melhor filme. Meu Schindler continuaria interesseiro e pragmático até o final. Sem chororô.

5% dos filmes nacionais
Uma das grandes verdades da vida é que praticamente todo filme brasileiro poderia ser refilmado. Mas 90% deles, talvez mais, não valem a pena, nunca valeram, em que pesem as perversões do pessoal do “audiovisual”, que elogia às escâncaras coisas que numa família de bons costumes jamais seriam mencionadas em voz alta perto da crianças. Outros 5%, talvez menos, perderiam tudo se fossem retirados de seu momento histórico, ou mesmo artístico: um filme como “Viagem aos Seios de Duília”, que não chega a ser magnífico, me pareceria mais pobre e sem sentido sem a sua fotografia. Mas há uma série de filmes que são quase bons, especialmente entre as pornochanchadas dos anos 70, e que se beneficiariam de maior aprumo técnico.

Há outros filmes, claro, que não consigo lembrar agora.

2 thoughts on “Remakes

  1. ” elogia às escâncaras” denuncia idade… hahahahahah
    Vc fala daquela cena que tem um colorido do Schindler, né? Eu entendo sua crítica e acho o Schindler um dos melhores (senão o melhor) filme da década de 1990.

    Eu acho que um novo “Blade Runner” é até necessário. Mas sem o seu diretor que pirou de vez, provavelmente. A exemplo de “Vingador do Futuro” que ficou muito boa a nova versão, eu acho que Blade Runner seria melhorado com o tempo, com os streamings, com Black Mirror e em ritmo mais bem aprumado.

    Dos nacionais, que tal um novo “Oh, rebuceteio!”, “O Gênio do sexo”, “Marcelo Zona Sul” ou “Gargalhada final”?

    Seria interessante de ver o que seria feito nesses nacionais nesse mundo carola e voltado à extrema-direita. #medo

    • Do Schindler eu não gosto do final, que destrói o filme. No vestido da menina eu não vejo problema, afora ser um recurso usado antes em “Rumble Fish.”

      Mas não acredito que “Blade Runner” pudesse ser melhorado — como não acho que “O Vingador do Futuro” tenha ficado melhor na nova versão: acho inclusive que se perdeu muito do contexto social que a primeira versão oferecia. Sem esquecer da star quality de Scwarzenegger, que o Colin Farrell jamais terá.

      “Oh! Rebuceteio” é, digamos, “inrrefilmável”. Não faria sentido sem o Cláudio Cunha mandando o espectador gozar, e fora do seu tempo. É quase como refilmar “Casablanca”. “Marcelo Zona Sul” acho que podia ser refilmado e ficar muito melhor. Não vi ou não lembro de “O Gênio do Sexo”, mas pela sua sinopse no IMDb parece ser perfeito para os tempos atuais. Sei que não vi “Gargalhada Final”, mas os filmes do Xavier de Oliveira, de que eu gosto muito, costumam ser muito bons, e acho que podiam, sim, ser melhorados tecnicamente. Pela sinopse, acho que esse podia ser atualizado.

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