A Veja desta semana traz uma matéria de página dupla intitulada “A micareta picareta”, dizendo que o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, superfaturou shows em eventos da prefeitura para fazer caixa dois e financiar sua campanha para governador.
A matéria, assinada por Fábio Portela, começa já com uma informação errada. Diz que o Pré-Caju, micareta realizada todo ano, é financiada por recursos públicos, o que é uma inverdade. A Prefeitura e a ASBT, entidade que promove o Pré-Caju, chegaram inclusive em estar em lados opostos recentemente. Mas essa é uma afirmação necessária para que se justifique o que a revista diz depois. Não é à toa. Ela quer configurar um caso de prefeitura corrupta, uma imagem bem adequada à sua campanha.
Para citar apenas o caso com a maior discrepância de números, o show do cantor Daniel, a Veja não menciona que além do cachê do artista houve gastos como 52 mil reais de passagens para as mais de 40 pessoas que compõem a equipe de Daniel, 33 mil reais de excesso de bagagem, entre outros.
O mesmo vale para todos os outros shows. O que a reportagem faz é um exemplo de torção da informação para alcançar um objetivo específico. É a outra definição de mentira. E essa omissão não é algo feito por incompetência. É deliberada, porque o que a Veja quer não é informar, e sim formar uma opinião de acordo com os seus interesses.
Correm boatos de que as informações foram fornecidas à Veja pelo senador Almeida Lima, homem que há dois anos foi motivo de riso nacional por levar um dos maiores escrachos públicos já vistos no Congresso Nacional, pelo senador Aloízio Mercadante. Até hoje o ex-prefeito Almeida Lima, homem de origem pobre mas agora bastante rico, é conhecido em Aracaju pelo apelido recebido na época: Darlene, a personagem de novela global capaz de qualquer coisa para aparecer.
Se for verdade, a reportagem não se preocupou em averiguar os dados que o senador lhe ofereceu. Apenas os repetiu acrescentando doses de malícia. E acrescentando mais mentiras.
Por exemplo, o que eles chamam de “canalização de um córrego” é, na verdade, a drenagem de um bairro da zona norte, o Ângela Catarina. A coisa é ainda pior no caso da “pavimentação de rua” inaugurada com o show de Daniel. Neste caso, o que se inaugurava era toda a reestruturação de um bairro problemático, a Coroa do Meio, e a construção de uma enorme avenida, a Perimetral. A urbanização da Coroa do Meio era uma das obras-chave da campanha de Marcelo Déda.
Esse não é um caso isolado ou simples denuncismo. Nunca é. Neste caso específico, há um interesse na campanha eleitoral sergipana e, conseqüentemente, presidencial.
Ultimamente, Sergipe tem aparecido no noticiário nacional porque, aqui, há uma grande dificuldade de concretização da aliança PSDB/PFL, necessária para que Alckmin tenha alguma chance. Alckmin está tentando evitar que o ex-governador Albano Franco, do PSDB, apóie Déda, movimento que se concretizado poderia vir a selar antecipadamente a derrota do governador João Alves Filho, o homem que quer construir uma ponte ligando o nada ao lugar nenhum. João Alves, que tenta a reeleição apesar de um governo sem realizações, está atrás em todas as pesquisas feitas até agora, e por isso desfere uma das mais impressionantes campanhas de manipulação da imprensa da história do Estado.
Nos últimos meses, o governador tem feito de tudo para encontrar indícios de corrupção na administração de Marcelo Déda. Não encontrou. Mesmo com o Tribunal de Contas composto de integrantes, em sua grande maioria, indicados por João Alves e correligionários, as contas de Déda vêm sendo aprovadas sem problemas. Nesse caso, o que se pode fazer é sugerir, insinuar, sem preocupação com os fatos.
Na melhor das hipóteses, a revista foi incompetente. Na pior, agiu de má fé, sabendo o jogo político em que entrou e fornecendo informações falsas ou incompletas deliberadamente. O que a Veja fez aqui não é jornalismo. É campanha eleitoral. Do tipo mais baixo, o que apela para mentiras.
Há algum tempo, a Veja deu um apelido à sua principal concorrente na época, a IstoÉ: dizia que ela deveria se chamar “QuantoÉ”. Agora, pelo visto, a gente fica com a impressão de que a Veja entende do assunto.