Há uns dois anos, falando sobre minhas Copas do Mundo, eu disse que quando a Copa de 2006 estivesse mais próxima eu dava meu palpite. Agora cumpro a promessa.
Eu não acho que o Brasil vá ganhar a Copa.
Paradoxalmente, este ano o Brasil tem, disparado, o melhor time; esta é a melhor seleção que enviamos em muito tempo. Todas as outras tiveram defeitos graves: a de 70 não tinha defesa, à de 82 faltava um bom centro-avante, as de 86 e 90 eram uma mistura indigesta de velhos e jogadores de segunda, em 1994 não havia um meio de campo, a de 98 era um time sem coesão e a de 2002 era o time de Tinga e Léo Costa.
Mas agora o time é brilhante: os Ronaldos, Kaká, Adriano, um meio de campo que pode ser excelente se tirarem Emerson e colocarem Juninho Pernambucano, uma defesa confiável. Temos até um substituto à altura (na minha opinião, muito melhor) para Cafu, e poderemos ver uma lateral direita com brilho, o que não acontece desde Jorginho.
Por outro lado as outras equipes, apesar do oba-oba de sempre da imprensa esportiva, não estão à altura da Seleção Brasileira. Falem o que quiserem das seleções européias, elas são sempre inferiores aos seus campeonatos nacionais, por causa da nossa quinta coluna. Basta ver os times que enfrentaram para se classificar. A única seleção respeitável, de verdade, é a Inglaterra: só pode ser deboche falar do imenso progresso da Itália, quando ela se classificou graças a uma Letônia ou Estônia, sei lá. Que se fale da força européia e se faça julgamentos a partir da Eurocopa: a verdade é que quando seus adversários são os sul-americanos, a história é outra.
Quanto a esses, só a Argentina deve ser levada em consideração, e no momento ela é bem inferior ao Brasil. Quanto aos africanos, bem… Minha teoria sobre o futebol brasileiro é freyreana: somos os melhores porque combinamos o negro e o branco. Os africanos, tadinhos, só têm o negro — e então é aquela coisa de jogar ofensivamente, bonito, correr sem parar e levar cacete de uma equipe mais densa nas oitavas-de-final. Eles são a Colômbia de lá — time em que, para meu orgulho, nunca acreditei.
O problema é que essa festa não é nossa.
Se a Copa fosse em pontos corridos — em 20 jogos, digamos — ninguém conseguiria tirá-la do Brasil. Mas Copas do Mundo são bichos caprichosos. São sete jogos, e pode-se perder apenas um dos três primeiros. Numa Copa, tudo pode acontecer; é essa a maravilha do esporte.
A Copa da Alemanha foi montada para fazer a festa européia. O Brasil teve três chances seguidas, recentemente; agora é a vez deles. Basta ver como foram montados os grupos. Não é para o Brasil ganhar.
Obviamente, nada disso é definitivo. O Brasil pode ganhar essa Copa, e é bobagem negar que é o favorito por muitas léguas de distância. Se eu fosse apostar meu dinheiro, apostaria na Seleção Brasileira: quando se diz que tudo pode acontecer, isso também vale a nosso favor. Mas é essa sensação danada de que essa festa não foi montada para a gente que me faz ter pouca fé no hexacampeonato. Se formos campeões, será contra a tal conspiração do universo de que fala Paulo Coelho.
Mas em julho, claro, eu vou mudar de opinião. Eu, que não vejo mais futebol para não correr o risco de assistir ao jogo fatídico em que o Flamengo finalmente será rebaixado, vou sentar diante da TV e, depois das primeiras vitórias, nada me tirará a certeza de o hexa virá. Vou ver todos os jogos em casa, porque sempre que vi fora nós perdemos. Nas quartas-de-final, vou tomar duas garrafas de beaujolais, porque foi assim que ajudei o Brasil a vencer a Holanda em 94. Se houver pênaltis, eu não vou assistir, porque assisti em 86 e deu no que deu. E vou acreditar piamente que a taça do mundo é nossa, que com brasileiro não há quem possa, porque somos 185 milhões em ação.