Talvez alguém possa me explicar a palhaçada que o bispo de Barras, Dom Luiz Cappio, está fazendo ao inventar uma greve de fome contra a transposição do São Francisco.
Segundo as informações disponíveis por aqui sua greve de fome é meio torta. Ele toma sucos (e más línguas dizem que deve encher o rabo de hóstia, caso em que se iguala à dieta básica de milhões de nordestinos famintos que também só comem farinha). Mas ainda assim é uma greve de fome.
Com isso o padre não está apenas fazendo uma palhaçada política, aproveitada por todos os inimigos da transposição e do governo federal. Está cometendo um pecado, e dos graves. Em algum lugar da Bíblia — nessas horas a Congregação Mariana de Astrólogos faz falta — Deus diz que ninguém pode dispor de sua vida. É exatamente isso o que o bispo está fazendo. É bem provável que em algum tempo receba ordens para encerrar a palhaçada, vindas de um superior, e sua greve acabe. Ninguém sabe.
Talvez o pior na atitude do padre seja o fato de denotar, principalmente, teimosia. Mesmo morando em um dos dois Estados diretamente afetados por qualquer coisa que atinja o baixo São Francisco, eu ainda não tenho certeza sobre a transposição. Há tantas opiniões conflitantes, tantas justificativas técnicas de ambos os lados, que tudo isso acaba virando um palco de debates — ou de teatro, no caso do bispo de Barra.
É quase certo que a transposição seja realmente necessária. O problema da obra é que há outras soluções intermediárias possíveis, a maioria mais barata. Como o uso das águas subterrrâneas em alguns lugares, como o Piauí, ou aproveitamento mais racional dos açudes cearenses — muitos deles sub-utilizados. Engenheiros hídricos dão dezenas de soluções, embora nenhuma seja definitiva. De qualquer forma, nenhuma dessas obras custaria mais do que a transposição. Mas nenhuma daria, tampouco, a visibilidade que a transposição dará a qualquer governo que a realize.
Essas soluções menores talvez fossem preferíveis diante de um fato simples: hoje o Velho Chico é um rio quase exaurido. Nenhum outro tem seus recursos tão utilizados em escala tão gigantesca — de hidrelétricas a projetos de irrigação. A região do baixo São Francisco está, já há alguns anos, assustada com a degradação do rio. Se ninguém nega que a transposição seria útil para os Estados do Nordeste que se empenham em sua realização, ninguém nega também que o rio precisa urgentemente de revitalização. Ele está morrendo, e é esse medo que motiva uma parte dos protestos contra a transposição.
(Mas grande parte desses protestos é política, como foram suas motivações. É bem provável que, ao anunciar o projeto, a única motivação de Fernando Henrique Cardoso fosse dividir a bancada do Nordeste, principalmente Antônio Carlos Magalhães, e não tivesse intenções reais de realizar a obra. Lula parece ter embarcado no projeto para atender compromissos com Ciro Gomes — e talvez empolgado diante da perspectiva de fazer uma obra estrutural de grandes proporções.)
É uma questão de ordem, principalmente: a revitalização deveria vir antes da transposição. Tirar água de um rio exaurido é temerário, ainda que o canal vá sair da represa de Sobradinho, o que em teoria oferece mais possibilidades de controle. Por isso já há algum tempo se fala em uma outra transposição: a do Tocantins, que se ligaria ao São Francisco e garantiria a transposição para o Ceará, além de resolver parte dos problemas que o S. Francisco já enfrenta. Essa poderia ser a solução mais importante, em um conjunto necessário. É uma obra cara, talvez mais cara que a transposição do São Francisco. E a água teria que ser subsidiada durante muito tempo.
Enquanto isso, em uma atitude de vigário de interior com delírios napoleônicos de grandeza, Dom Cappio continua seu auto. Mas o mais engraçado em tudo isso é que já tem religioso no Ceará, desde sempre o Estado mais interessado na transposição, ameaçando fazer greve de fome também — mas dessa vez a favor. E há poucas coisas que eu gostaria tanto de ver como um duelo desses.
Houve uma época, não lembro quando, que uns engenheiros israelenses fodões passaram lá no Chico e propuseram ao governo fazer o necessário em troca do uso exclusivo do Chico por um tempo. Solução rapidamente recusada pelo governo.
Eu sinceramente acho que a transposição tem que vir do Tocantins, mesmo que demore mais e custe mais.
Esse padre é patético, pois alem de provavelmente levar uma bela sova dos seus superiores é estrangeiro, gerando um problema diplomático pro país. Só o que faltava mesmo.
N dá pra eu falar no rio S Francisco sem ser pelo coração. Explico: vários rios passam ‘pela minha aldeia’, e do Grande (um dos seus principais afluentes) eu ouvia, da janela de casa – na infância e parte da adolescência – o apito das barcas e rebocadores q chegavam e partiam. E tantas histórias e alegrias q isso me dava.
Passei 10 anos sem ir à minha cidade, e sem ver o SF – passagem obrigatória pra quem por ali viaja por terra. Em 2001, vi e chorei. Triste, mto triste ver o rio clamando por socorro. Deixar a água q brotou de mim sobre o rio n foi um propósito. N foi um descontrole. Foi um gesto de amor, destes q a gente n explica. E de inconformismo, tb.
A necessidade de revitalização do SF é antiga, porém urgente. Os ribeirinhos q do rio tiram seu sustento, seu alimento e pq n dizer tantas alegrias, n serão beneficiados c a transposição, segundo li em alguns textos q circulam sobre este polêmico assunto. O rio n tem dono, mas tem seus amores. Tem um povo, uma cultura, uma tradição. E a vontade desse povo precisa ser respeitada.
Qto à greve de fome do bispo, n o apaudo, tb n o condeno. Mais importante é a informação q esta ‘voz’ trouxe. Foi ouvida por mtos q n compartilhavam do assunto. Percorrer o rio, conversar c moradores das suas margens foi tarefa dele, o bispo. Acredito q ele seja sabedor de necessidades e prioridades deste povo.
Como disse no início, falo pelo coração. E esse me diz q revitalizar o Velho Chico antes de qq outra ação é q é importante.
Salve o rio São Francisco!
Existem outros interesses por trás disso, Rafael, outros, creio eu. Essa obra – se correta – tiraria da Igreja o seu dever (sic) messiânico e humanitário e transportaria isso para o Governo; e essa disputa populista entre Governo e Igreja é de longa data…
Como diz meu pai:
-“Esse padre perdeu uma ótima oportunidade de ficar com a boca fechada!”
Dá até um trocadilho neste caso.
Eu adoraria assistir um duelo de greves de fome.
Seria O Duelo.
O cara só quer fama de santo. Andam comparando o cara padim padre Cícero, pode? Um absurdo.
Até padre quer ser famoso hoje em dia… se ele morrer de fome não vou dormir a noite…
É. Mas uma colunista do Valor, a Maria Cristina Fernandes, deu o tom na sua coluna da sexta feira passada: o PT arriou as calcinhas pra Igreja, e isto prova que a Igreja ainda continua forte no Brasil.
Imaginem se fossem fazer um plebiscito pelo aborto…
Se o padre fizesse uma greve de fome em favor da transposição estariam metendo o pau nele do mesmo modo. A moda é descer o cassete na Igreja. Foi-se o tempo em que o tal do Chiquinho foi Chicão, fazer a transposição é acabar com o que sobrou do seu Chico. Nunca vi governos tão incompetentes.
Acho que antes de transpor o Velho Chico é necessário sim, fazer uma revitalização do rio, mas acho que dá pra perceber que a intenção dessa obra é das melhores, não?
Assunto complicado!
Abraços…
É tão engraçada a opinião de vcs, foi um gesto politico? como vcs podem ter certeza disso? não vcs estão julgando, julgando e julgando. pelo menos ele fez alguma coisa, fez pra defender o ponto de vista dele, e de um povo humilde q com certeza está assustado com a possibilidade de vir a fikar sem seu ganha pão. É fácil criticar, sentar em sua cadeira em frente seu computador e criticar as ações dos outros. pq vcs não tentam fazer alguma coisa tbm? Pelo menos o “Padre estrangeiro” abriu os olhos do Brasil, pra um assunto q todo mundo finjia não existir.
E enquanto ele tava “comendo Farinha” vcs estava comendo um bankete. Isso mesmo, vcs q são “brasileiros” ki tenha sido um gesto politico, problema dele, ele vai resolver isso com o Deus dele, mas veio em boa hora.
Eu agradeço.