Rafael, inimigo da Igreja e futuro excomungado

Comentário neste blog, de um senhor mui pio chamado Amilcar Augustin:

Espero q vc esteja muito arrependido de todas essas besteiras que falou do nosso Pai (pai de todos os Cristãos, que realmente crêem no Cristo Vivo e REssussitado, e que Crêem quando Cristo falou a Pedro: “TÚ ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA”) , o agora ausente SANTO PADRE O PAPA JOÃO PAULO II, sucessor de Pedro Apóstolo. Se até os mais pecadores e descrentes de Cristo, os fiéis depositadores de salários dos “SACERDOTES” das mais variadas “IGREJAS??!?” reconhecem a importância deste homem, e a falta que ele irá fazer, você, ó mísero pecador, o q tem de ficar falando besteiras de um dos maiores homens que a humanidade ja teve depois de JESUS CRISTO? Sem dúvida a morte de JOÃO PAULO II, nosso Pai espiritual, cabeça da nossa igreja, nosso apóstolo maior, será sentida por toda igreja, mais especialmente por alguns q como eu choram a morte deste grande homem. À você só me resta rezar.

Reze, meu filho. Reze muito, que eu preciso.

Papas

Carol e Um Cara, posso enumerar dezenas e dezenas de papas que não tiveram importância alguma, mas seria mais interessante dar uma olhada na lista de papas da Wikipedia. Para começar João Paulo I, até pelo pouco tempo de papado, pouco mais de 30 dias. Os 10 papas (11, de acordo com algumas contagens) que reinaram menos que ele também não deixaram traço.

Mas essa não é e nem pode ser a medida da importância dos papas. O fato é que a maioria passa pelo Vaticano em brancas nuvens. Para ficar só no século XX, apenas João XXIII — o papa mais progressista do século, mas ainda assim cheio de contradições — e João Paulo II tiveram importância real, acompanhados de longe talvez por Paulo VI; o resto simplesmente se contentou em ver o declínio da religião católica no mundo, embevecidos com os calções multicoloridos da guarda suíça. Ah, sim: a gente pode lembrar do infame Pio XII, o homem que lavou as mãos da Igreja em relação ao Holocausto.

Assim como João XXIII abriu a Igreja a uma onda de renovação, João Paulo II colocou a Igreja Católica no front político de forma ativa. Sua atuação no “degelo” do leste europeu foi importante ao estabelecer um ponto de apoio aos contra-revolucionários. E, concorde-se ou não com suas posições, ele investiu no fortalecimento ideológico da Igreja. Finalmente, com todas aquelas viagens e beijos no chão, ele representou, pela primeira vez em muito tempo, o velho espírito missionário da Igreja.

E é daí que vem a sua importância, Johnny. Não preciso concordar com suas posições para reconhecer que ele desempenhou um papel importante para a Igreja, e mais que isso, no mundo; tampouco preciso gostar dos resultados. Nem posso achar que só porque ele não acredita no que eu acredito ele não acredita em nada. É como dizer que, só porque eu não acredito no comunismo, Lênin não acreditava em nada nem fez nada de importante.

Não que esse seja o caso, claro…

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Da Wikipedia, às 19:30 de ontem:

The most recent Pope was Pope John Paul II, who was elected at the age of 58 in 1978. He was the first non-Italian to be elected to the Pontificate since Adrian VI, who was briefly pope in 1522-23. Pope John Paul II died at the age of 84 on April 2, 2005. Currently there is no Pope.

E tem gente que não entende a revolução que ela é.

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Shoes of the Fisherman, do billmon, é o melhor artigo sobre a morte do papa que eu li, e vai além.

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Na seara do “Ai meu Deus”: uma lista dos papas mais ativos sexualmente. Alexandre VI sempre foi o meu preferido.

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Eu vou morrer acreditando que alterar a missa tridentina foi um equívoco demagógico da Igreja.

O papa é pó

A morte iminente de João Paulo II é a hora para começar a relembrar o valor do sujeito, a sua contribuição histórica.

Concorde-se ou não com ele — e eu já escrevi um post que hoje não escreveria, pelo tom desrespeitoso –, a importância do sujeito é enorme. No fim das contas, o que fica é um sujeito que acreditava. E acreditar, em tempos tão difíceis, é uma das coisas mais importantes em que posso pensar.

A pergunta agora é: quem vai ser o próximo papa?

Algumas notas rápidas

Quem mais trouxe visitantes a este blog em março:

O Biscoito Fino e a Massa: 611
Carreirasolo: 435
Smart Shade of Blue: 314
Liberal Libertário Libertino: 262
NCC: 185
Tiro e Queda: 159
Pensar Enlouquece, Pense Nisso: 147
Monicômio: 103
Carta da Itália: 76
Homem Baile: 74
Uma Malla Pelo Mundo: 70

O mais curioso: praticamente todas as visitas do Carreirasolo vêm através do seu feed RSS.

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O Pensar Enlouquece, Pense Nisso está concorrendo ao Prêmio iBest de melhor blog.

Não dou absolutamente a mínima importância ao iBest. Não reconheço nenhum valor naquilo. Não vejo nenhuma influência do iBest nos rumos da internet. Só sabia que ele existe porque em época de eleição eu era inundado por popups de sites pedindo um voto que nunca dei. Depois que passei a usar o Firefox, o iBest simplesmente sumiu da minha vida.

Mas o prêmio existe, o Pensar Enlouquece está lá, alguém vai vencer.

E se é para alguém ganhar, que seja o Inagaki.

A razão é simples: o Pensar Enlouquece é um dos melhores blogs do Brasil, e nunca deixa essa posição. Para mim, é o modelo ideal. A variedade de assuntos — embora andem faltando aqueles pequenos contos que o Ina de vez em quando publicava –, a delicadeza de tantos textos, as informações desnecessárias e deliciosas (o sujeito conhece mais música brega que eu), tudo isso faz do PE leitura obrigatória.

Há outros excelentes blogs indicados, e dos que conheço poderia citar o do Noblat. Raramente concordo com ele, não gosto de suas opiniões, mas é certamente o melhor blog jornalístico do país. Ele deu um show na cobertura da lambança severina.

Mas eu vou votar no Pensar Enlouquece.

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O Rei Açúcar é um belo novo blog.

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Alguém tem lido os contos que o Reginaldo, do Singrando, vem publicando caladinho?

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Ontem a notícia do dia foi o aumento da capacidade do Gmail para 2 GB.

Notícia incompleta e enfoque errado.

Incompleta porque o que o Google anunciou, na verdade, foi outra coisa: sua capacidade de armazenamento é, agora, virtualmente infinita, o que significa que vai aumentar progressivamente, incessantemente.

Enfoque errado porque mais importante que isso seria poder mandar arquivos maiores que 10 GB via Gmail. E isso ainda não é possível.

Mais importante, no entanto, é o fato de que espaço deixou de ser uma questão para quem oferece e-mail gratuito. Isso é bom: não deve demorar muito até que as iniciativas na área digam respeito a uma melhor qualidade do serviço.

A propósito, tenho 50 contas no Gmail para dar. Quem quiser é só deixar um comentário aqui.

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Do Cinzas de Batalha:

A arroz-de-festa Paris Hilton recebeu um convite para se tornar uma prostituta de luxo e ganhar 27 milhões de libras por ano (cerca de R$ 135 milhões).

Se ela não aceitar, olha, meu nêgo, eu fico muito bem de bustiê, salto 18 e sainha curtinha.

Pena de morte

Que discussão maravilhosa. Obrigado.

Acho que, em primeiro lugar, é preciso abstrair da discussão a idéia de que “no Brasil, não”. Mais que uma questão conjuntural, a pena de morte é uma questão filosófica: deve ou não a sociedade ter o direito — que para alguns se transforma em dever — de eliminar o seu semelhante? Restringi-la porque não se tem confiança no sistema judiciário brasileiro é simplesmente não discuti-la, até porque não há a mais remota chance de a pena de morte ser aprovada no país, pelo menos nas próximas décadas.

Os fatos: a pena de morte não tem nenhum efeito coercitivo que as penas comuns não tenham. Não tem função regenerativa porque mortos não costumam se arrepender. A possibilidade de ser usada discricionariamente em regimes de exceção é bobagem: eles têm esse nome justamente por não respeitarem as regras democráticas, portanto isso é irrelevante. Manoel Fiel Filho e Vladimir Herzog, por exemplo, não foram condenados por nenhum tribunal.

Acho que um dos bons argumentos contra a pena de morte é a sacralidade da vida, porque é geralmente uma postura ética forte. Se você acha que a vida é sagrada, nada justifica a morte de outra pessoa. Mas uma das coisas que me impressionaram é que grande parte das pessoas contrárias à pena capital são favoráveis ao direito ao aborto, e essa dicotomia de certa forma prejudica um pouco o argumento. Do ponto de vista biológico, um feto de 12 semanas é um ser vivo, seja lá o que for. Tem pés, mãos, seu coração bate. Ao que parece, o que faz a diferença é a humanidade que atribuímos a ele.

A pena de morte deve ser julgada pelo que é: a sociedade se livrando daquilo que acha incorrigível. A idéia é: você aceita que um grupo de pessoas representando a sociedade tenha o direito de decidir se alguém morre ou não?

Se for mais fácil, imagine um governo utópico, numa sociedade absolutamente justa, com um sistema jurídico imune a falhas. Você tem a garantia de que nenhum inocente será condenado. Nesse caso você aceita a pena de morte?

Um sujeito mata seu pai. Você acha que tem o direito de matá-lo? O Estado tem? Você pensaria da mesma forma se fosse o pai de outra pessoa? Qual o padrão? Por que alguém acha que matar pessoalmente alguém que lhe fez muito mal é moralmente justo, e deixar que o Estado faça o mesmo não é?

É humano entender o sujeito que mata outro porque este, por exemplo, matou seu irmão. Mas é justamente para evitar a lei de Talião que existe o Estado. É para isso que existe um sistema judiciário.

A pena de morte é a sistematização de um procedimento de defesa da sociedade. Pode ser entendida como vingança, claro; mas um outro ponto de vista é o de que é simples pragmatismo. Quem já teve contato com prisões pode atestar que algumas pessoas são simplesmente ruins, e é bobagem demagógica pseudo-cristã dizer o contrário. São irrecuperáveis. Quando voltarem para as ruas vão fazer o mesmo que sempre fizeram. Não é sequer culpa da sociedade.

Aí fica a questão: você pode apostar que fulano, quando sair da penitenciária, pretende matar mais gente. Sabe que, independente do que aconteça, alguém vai morrer. Pode-se afirmar que, recusando-se a se livrar dele, a sociedade está contribuindo — por omissão, no mínimo — para que outras pessoas morram, às vezes pessoas inocentes. A pergunta: até que ponto o Estado tem o direito de proteger seus constituintes? O que é essa proteção? Há diferença ética entre a morte de pessoas inocentes e de bandidos?

A única certeza que tenho é que a prisão perpétua é algo muito pior e mais desumano que a pena de morte. Eu só consigo defini-la como o máximo da crueldade: condenar uma pessoa a viver o resto da vida presa simplesmente não tem sentido. Se ela vai ser reeducada, se ela vai se arrepender é irrelevante: ela não vai ter a chance de mostrar isso, não terá a chance de voltar a ser útil para a sociedade. Sua possibilidade certamente não faz mais para dissuadir alguém de cometer um crime do que a pena de morte. Não há outra finalidade na prisão perpétua que o castigo puro e simples. O Estado se mobiliza apenas para que essa pessoa passe o resto da vida expiando seu crime. Não tem sentido. Não passa de condenação à morte em vida. E por mais que digamos que a vida é sagrada, passar o resto da vida sem nenhuma esperança não deve ser muito melhor que morrer.

São só mais algumas perguntas. E eu não tenho as respostas. Tudo o que posso dizer é que, se fosse legislador naquele país utópico, votaria contra a pena de morte. Mas não por causa das minhas certezas; votaria, antes, pelas incertezas. E porque, antes de permitir ao Estado matar alguém, me incomoda mais eu mesmo assinar qualquer sentença macabra dessas.