Quando a TV começou a se afirmar como uma concorrente séria ao cinema, Hollywood tomou, entre outras, uma medida simples: mudou o formato padrão dos filmes, de 4×3 para os atuais, mais compridos e que poderiam proporcionar uma experiência mais “panorâmica”, mais espetacular.
Para muita gente isso é uma prova de que a indústria cinematográfica é burra, etc. Eu não acho. Não acredito que ela tivesse alternativa na época, como a indústria fonográfica não tem hoje. O caso da mudança de formato foi uma necessidade quando não haviam alternativas tecnológicas, e nem de longe se assemelha à burrice dessa mesma indústria ao não perceber o potencial do vídeo-cassete.
Algo parecido pode estar acontecendo com jornais impressos, hoje. Uma ruptura se aproxima e eles não têm ferramentas para assimilá-las. Gente boa evoca casos de rupturas semelhantes para apostar em uma convivência pacífica entre eles e a internet.
Mas eu não tenho certeza de que dá para comparar a internet com o rádio e a TV. Essas eram mídias muito diferentes daquelas a que se juntavam, e essencialmente complementares. O rádio trouxe o som; a TV trouxe a imagem em movimento. A internet traz tudo isso no mesmo pacote, e é isso o que a faz diferente.
Certo, a TV não destruiu os jornais nem o rádio. Mas absorveu muitas das funções deste (radionovelas são só um exemplo) e o forçou a mudar de formato, tirando boa parte da sua importância; acabou também com edições vespertinas e noturnas dos jornais — e comparem o número de matutinos em 1950 com nossos dias. Além disso, enterrou os cinejornais. A idéia de que ela convive pacificamente com outras mídias não é totalmente falsa, mas tampouco é verdadeira.
Há algo na internet — e principalmente no RSS, na minha opinião muito mais revolucionário que blogs — que me parece muito semelhante aos jornais, o que em parte inibe esse aspecto complementar. Se você quiser, é uma mídia escrita. Se você quiser, tem a mesma estrutura que os jornais. Mais importante: em um momento em que quase ninguém lê um jornal inteiro — basicamente as manchetes principais e os assuntos que mais lhe interessam — a internet oferece uma segmentação muito mais adequada que os jornais, que precisam ser tudo para todos.
É perfeitamente possível imaginar um cenário em que as pessoas recebam as hard news via RSS, na hora em que elas acontecem, e recorram a revistas semanais para uma análise mais profunda da notícia. Ou mesmo mensais.
E aí está o problema. O jornal, por mais que se esforce, não é um veículo para grandes análises. Ele fica velho em 24 horas. A internet diminui ainda mais esse período de vida. Se as revistas ocupam um espaço que a informação via internet ainda não supre a contento, embora os blogs tenham condições de desempenhar esse papel em relaticamente pouco tempo, os jornais impressos se tornam cada vez mais atrasados. E isso me parece irreversível.
Se eu fosse apostar, eu não colocaria minhas fichas na sobrevivência dos jornais impressos por mais 30 anos.