Cena baiana

Salvador, conversando com um amigo num boteco.

— Rafael, tem uma festa de 15 anos ali no Cabula pra gente ir. Vamos?

Vamos. Entramos na festa lotada e Waltinho pergunta:

— Como é o nome da aniversariante?

— Adriana.

De repente, algo me diz que não fomos convidados para a festa.

Mais uns passos e Waltinho comenta com alguém que passa:

— A Adriana está linda, né?

Vejo duas mulheres e me afasto de Waltinho. Começo a conversar com elas, falo umas gracinhas. Uma delas já está na mira. Elas são amicíssimas da aniversariante, cujo ar da graça até agora não vimos.

— Você conhece a Adriana?

— Não.

— Você veio com quem?

— Com Waltinho.

— Quem é Waltinho? E quem convidou ele?

— Ninguém. Ele entrou de penetra.

— Quer dizer que você é penetra?

— Não, sou convidado. O Waltinho me convidou.

E a conversa continua, elas me chamam de descarado enquanto riem, aquela moça olha diferente para mim, até mesmo sou apresentado à Adriana — que não estava tão bonita assim.

Algumas horas depois, eu sentado numa escada esquecido da festa, me aplicando em descobrir mais detalhes da anatomia da moça, e Waltinho aparece com dois copos de uísque na mão. Nada demais, se todos ali não estivessem bebendo cerveja.

10 anos se passaram, e ainda continuo convicto de que nunca dois penetras foram tão bem tratados em festa alguma.

Homem-Aranha 2

Assisti a “Homem-Aranha 2”. Infelizmente numa cópia dublada, por exigência da meninada. É no que dá ter um sobrinho cujo cachorro se chama Peter Parker.

Talvez não seja melhor que o primeiro, mas certamente não fica atrás. Ainda falta humor nas falas do Aranha, mas há cada vez mais nas situações que Parker enfrenta, e isso é um avanço. Por serem mídias diferentes, talvez aquele blá blá blá do amigão da vizinhança nos quadrinhos não coubesse no filme; não sei.

Mas o melhor do filme é o Dr. Octopus. É o melhor vilão já recriado no cinema. Não há um só aspecto dele que seja ruim. Absolutamente nenhum. Na verdade, é melhor que o original, porque é um pouco mais complexo, e conseguiram arranjar um ator perfeito para o papel — coisa que Daniel Dafoe não era, e muito menos James Franco. Alfred Molina é Otto Octavius — um gênio bom mas enlouquecido. Seus tentáculos são perfeitos, e adquirem uma complexidade psicológica — se é que se pode falar nestes termos de um filme de super-herói — que não existe nos quadrinhos e que é bem-vinda.

A mudança sofrida por Octopus em sua transição para o cinema parece refletir uma linha seguida por Raimi de dar mais ênfase à dualidade de caa personagem. Homem-Aranha/Peter Parker, Norman Osborn/Duende Verde.

As lutas entre ele o Aranha são absurdamente bem feitas. Aproveitam a possibilidade efeitos especiais para respeitar o timing dos quadrinhos, e isso é fundamental; é um segredo que os produtores de Super-Homem e Batman nunca perceberam, por exemplo.

É uma delícia ver também as participações especiais, como Bruce Campbell como o porteiro do teatro. Como é interessante ver todos os ganchos deixados para o próximo filme. O vilão deve ser o Duende Verde 2, mas sempre há a chance de ser o Dr. Connors. ou John Jameson.

O Homem Aranha continua sendo a melhor adaptação de um super-herói dos quadrinhos. E, sob vários aspectos, tem ficado melhor.

A impressão que se tem é que Raimi teve mais controle sobre este filme. As coisas ruins são herança do primeiro, como Kirsten Dunst no papel de Mary Jane. A menina cai bem como vampira mirim, mas não como uma supermodelo e atriz. Ou Norman Osborn. É uma obra mais pessoal, e definitivamente mais madura.

Nua na banca de revistas

Há alguns meses eu me perguntava se, em relação à nudez, o cinema não tinha influenciado a realidade, em vez de o contrário.

A vida sempre foi belaUm artigo na revista Nossa História de maio, sobre as revistas “pornográficas” no Rio do começo do século passado, talvez indique que eu não estava tão desprovido de senso. Ele mostra que na primeira década do século passado revistas que misturavam humor e fotografias de mulheres nuas eram relativamente comuns no Rio, e vendidas abertamente em bancas de revistas. Tão abertamente — e é esse o ponto realmente importante — que causou o descontentamento de setores católicos.

É uma matéria muito interessante, embora erre ao misturar em demasia sexo e política. A idéia de que a repressão às revistas tinha tanto a ver com a “opressão das elites aos trabalhadores” quanto com a nudez nas fotos publicadas é um exagero, típico de uma ala acadêmica que acha que tudo neste mundo é mero resultado de um complô das elites contra os trabalhadores. Para a Liga Católica, que tentou proibir as revistas em 1910, os peitinhos das gordinhas eram motivo mais que suficiente para indignação. Ela não usava a pornografia como desculpa para “infantilizar os trabalhadores”, como sugere o ensaio; usava os trabalhadores como desculpa para banir o que lhe incomodava.

O ensaio falha também ao retratar os ataques a políticos como “coragem e irreverência”. Essa era uma postura amplamente disseminada na imprensa de todo o país na época, e em muitos lugares perdura até hoje, controlada apenas pelo medo universal de um tiro na testa. Se a autora conhecesse um pouco mais sobre isso, veria que cada ofensa atendia a interesses de outras facções. Nada era gratuito. Pode-se até chamar de coragem, mas ela não era nem um pouco desinteressada.

De qualquer forma, a existência de proto-Playboys vendidas despudoradamente naquela época talvez mostre que sim, que o cinema americano, como principal meio de diversão do século XX, impôs um modo de encarar e mostrar a nudez que era um retrocesso em relação aos costumes. Porque um gordo depravado e bêbado enfiou uma garrafa de coca-cola numa starlet (dizem que é lenda, mas e daí?) e eles se viram obrigados a criar o Código Hays, o mundo retrocedeu em anos.

O resultado pode ter sido a imposição do código puritano em relação à sexualidade, ao que podia ou não ser visto, ao resto do mundo. Foi um mau negócio.

Bandeira branca

E o lindo pendão da esperança foi escolhido a mais feia bandeira de um país independente.

Deixando de lado eventuais comentários sobre o que faria o presidente caso o sujeito fosse correspondente no Brasil de algum jornal como o Washington Post, a verdade é que eu estou longe de concordar com isso.

A bandeira brasileira está longe da simplicidade estonteante de uma japonesa (a nova, anti-imperialista; a de antes da II Guerra era horrorosa), e das belezas vermelhas que são a da Suíça e da China. Mas por favor, não dá para comparar com aquela coisa bizarra que é a da Guiana, ou mesmo com a a profusão absurda de listras que estão em 9 de cada 10 bandeiras mundo afora. A da Bielorrússia parece um tapete; a do Butão parece bandeirola de desfile coreano na Liberdade (existe isso?). A do Camboja é simplesmente uma assinatura de órgão oficial do turismo em um anúncio mal-feito.

Além disso, a simetria da bandeira (sem contar as estrelas e os dizeres positivistas) permite brincadeiras excelentes o ponto de vista gráfico. Basta olhar para as logomarcas do BNDES ou do Fome Zero.

O mais interessante em tudo isso é que a história da bandeira é mais interessante do que parece. Na escola aprendi que o verde representava as matas que os grileiros estão derrubando, e o amarelo o ouro que os portugueses levaram. Na verdade, o modelo original da bandeira imperial, desenhada por Debret e que inspirou a republicana, verde com o losango amarelo, foi inspirado no estandarte de Napoleão. E as duas cores não tinham nada a ver com a terra do “em se plantando tudo dá”: eram as cores dos Habsburgo e dos Braganças, as dinastias que nos deram D. Pedro I.

Quer símbolo maior do Brasil do que essa bandeira com suas histórias tão diferentes?

Racistas e neo-luditas

Racistas são, normalmente, pessoas burras. Vai além da ignorância que as faz defender teorias absurdas: é um problema de falta de neurônios, mesmo.

Por exemplo, demorei a entender por que nenhum grupo neo-nazista fez um mapa de Counter Strike no gueto de Varsóvia, ou charges de negros queimando em Flash, ou qualquer coisa que aproveitasse as vantagens que a tecnologia traz.

A razão era simples, estava na minha cara e eu não percebia: porque tudo neles é arcaico, anacrônico. Eles se recusam a ver o mundo como é, os progressos que trouxe, porque suas cabeças retardadas não conseguem processar nada além das 3 ou 4 idéias que lhes oferecem a visão simples de um mundo onde são melhores do que o que jamais poderiam querer ser na realidade.

Já que eles geralmente são defensores ardorosos da eugenia, bem que poderiam começar por si próprios.

BBB

Não, a sigla não é para o programa da Globo: é para o Big Brother Bush.

O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos está alistando 400 mil pessoas para servirem como espiões de comportamento suspeito em áreas públicas, de acordo com essa matéria da Time pinçada no Boing Boing.

Os EUA já viram isso antes. E não tem muito tempo: um clima semelhante, mas menos abrangente e muito menos nocivo, foi visto no final da década de 40, com o mccarthismo. Mas agora os vilões não são os comunistas: são os muçulmanos. E para acabar com eles, o governo americano está incentivando todos a se tornarem delatores, como aqueles que criticavam na União Soviética.

Eddie Dean of Fort Smith, Ark., also has little doubt about his ability to identify Muslims: “You can tell where they’re from. You can hear their accents. They’re not real clean people.”

Lentamente, a administração americana está trasnformando o país que um dia foi o paraíso da liberdade individual em uma cidade-estado medieval. Está construindo a antítese do que se orgulham em chamar de América. Não seria de espantar que em breve venham a promover queima pública de bruxas. E vai mudar de nome, de uma vez por todas, para Salem.

Renegando o próprio filho

Artigo na Slate diz que o IE é extremamente inseguro e que é melhor usar o Firefox.

Não seria nada demais se: a) a Slate não pertencesse à Microsoft; b) não fosse publicada através do MSN, também da Microsoft; e c) o Internet Explorer não fosse um produto da própria Microsoft.

Get FirefoxSe as coisas chegaram ao ponto de vários setores da MS reconhecerem que o IE é frágil demais para continuar a ser usado — ainda que, desconfio, temporariamente –, é cada vez mais difícil compreender por que as pessoas ainda insistem em usar aquele lixo.

Só para lembrar: além de muitíssimo mais seguro, o Firefox é um browser modular. Se você é o tipo de usuário que simplemente instala o programa e nunca mais mexe nele, ainda assim o Firefox está a anos-luz do Explorer, decididamente um bowser que parou em 1997. Se você gosta de configurar o browser de acordo com necessidades específicas, o Firefox oferece a possibilidade de instalar extensões de praticamente todos os tipos, que aumentam e muito a praticidade do browser.