Firefox

Não há nenhuma razão para que alguém insista em continuar usando o Internet Explorer.

No meu caso especifico, não uso o Internet Explorer por uma razão: eu nunca gostei dele. Usei o Netscape desde que me entendo por internauta, passando para o Mozilla no ano passado, quando a AOL desistiu do browser. Para não dizer que nunca usei o IE, quando a Netscape lançou a versão 6 tive que pedir água. Por sorte algum tempo depois lançaram a versão 7 e pude voltar para casa.

Mas além dessas idiossincrasias bestas, há uma série de razões para que uma pessoa com juízo não use o IE.

Em primeiro lugar, praticamente todos os virii e scams são direcionados a ele; segundo os entendidos, a arquitetura do programa é propícia a isso. O IE é vulnerável e pode comprometer a segurança do seu computador.

Além disso é um programa tecnologicamente atrasado. Depois que lançou a excelente versão 4 e ganhou a guerra dos browsers a Microsoft simplesmente deixou de atualizá-lo. Qualquer outro browser oferece, hoje, mais recursos que o IE.

Alternativas ao Netscape e ao IE sempre existiram, mas com exceção do Opera nunca conseguiram alguma penetração. Cientes de que ninguém resiste a um programa que já vem instalado no seu sistema operacional, webdesigners e programadores se acostumaram a desenvolver seus sites especificamente com o IE em vista. Dessa forma, os outros programas que usavam padrões abertos (foi isso, aliás, que fez da web algo revolucionário: padrões) acabavam levando a pior.

Get FirefoxMas agora tudo parece que vai ser diferente.

Venho dando uma olhada nas versões do Firefox desde a 0.3, acho. Apesar do entusiasmo com que vinham sendo saudadas pelos malucos do software livre, que acham maravilhoso tudo o se posicione como uma alternativa à Microsoft, eles não prestavam ainda. Mas a última versão, a 0.8, é muito, muito boa. Entre os recursos que hoje considero imprescindíveis estão o bloqueador de pop ups e o tabbed browsing, que possibilita que você abra várias e várias páginas em uma só janela.

Finalmente, este blog é melhor visualizado no Mozilla e no Firefox. Não por frescura minha, mas porque o IE tem problemas com CSS.

O Firefox ainda não é perfeito. O Blogger.br tem problemas com ele, mas não o Blogger americano. E não é recomendável instalá-lo em uma máquina que já tenha o Mozilla (aprendi isso da pior forma possível). Mas para quem usa o IE, vale a pena experimentar.

Se gostar, aproveite para considerar a possibilidade de abandonar o seu LookOut Outlook e usar o Thunderbird (ou o meu preferido, o Eudora, que no entanto não é gratuito). Dessa forma, você vai estar dando uma pequena contribuição para tornar a internet um pouquinho mais segura. E uma grande contribuição para tornar o seu computador muito mais confiável.

Ronald Reagan

Os anos oitenta foram os anos do início da última onda de globalização e da fragmentação do mundo. E se é para definir um rosto para aqueles anos, é o de Ronald Reagan.

Em 1980, a eleição de Reagan, um ex-ator de segunda, ex-presidente do Sindicato dos Atores e ex-governador da Califórnia, acabava com quatro anos de governo democrata nos Estados Um e com todo um discurso de respeito universal aos direitos humanos, dito sempre com um prazer meio inútil por Jimmy Carter.

Os setores mais progressistas da sociedade — que na época ainda eram identificados com a esquerda — ficaram de cabelos meio em pé: Ronald Reagan tinha uma longa história de atitudes, no mínimo, anti-éticas, mesmo que se leve em conta que elas eram causadas por suas convicções políticas, que sempre foram firmes. Durante a caça às bruxas do senador McCarthy, no começo dos anos 50, Reagan dedurou muitos supostos comunistas, como presidente do Sindicato dos Atores. Foi o primeiro passo de sua carreira política. Era esse homem que os americanos acabavam de eleger como presidente.

Mas ninguém jamais poderia imaginar o que lhes esperava. Desde Kennedy, nenhum presidente americano tinha conseguido se impor como ícone americano, com exceção de Richard Nixon, pelos motivos errados.

Pois Reagan conseguiu isso, e muito mais. Na verdade, o ex-ator medíocre (cujo melhor desempenho foi no bom King’s Row) definiu toda uma década, talvez até o futuro de todo o mundo.

O governo Reagan foi um dos mais laboriosos da história americana: reformou a base da economia, assim como o sistema social do país. Essas reformas significaram o sucateamento do sistema educacional e de saúde do país, além de incentivar uma política econômica ultra-capitalista que levaria o nome de reaganomics, a economia de Reagan. Basicamente, poder-se-ia traduzir o reaganomics por “desmantelamento do aparelho estatal”.

O fato é que Reagan conseguiu afirmar-se como um dos presidentes mais importantes dos Estados na segunda metade do século XX, ao lado de John Kennedy. Com a diferença que ele será lembrado pelo que efetivamente fez, e não pelo que poderia ter feito.

Culturalmente, os anos 80 foram a década em que os valores hippies foram definitivamente sepultados; o revival dos anos 50 que tomou conta do mundo a partir da segunda metade da década pode muito bem ser interpretado como uma consequência direta do ideário de Reagan: a saudade à Portugal do país aparentemente calmo, aparentemente tranqüilo e soberano absoluto que se conheceu no pós-guerra. Os Estados Unidos estavam perdendo sua hegemonia mundial rapidamente, mas a vontade americana de continuar com o mundo nas mãos continuava. Reagan alimentava o sonho.

E isso se traduzia em um movimento conservador na cultura. Iniciativas em favor dos valores tradicionais da América, as lutas de grupos organizados contra a pornografia e a indecência refletiam as idéias do seu grande líder.

Ao morrer, doente, gagá e afastado da política, talvez não seja exagero dizer que Reagan leva consigo o sonho da América. O sonho dos imigrantes, a América que os europeus personificavam na vista da Estátua da Liberdade ao chegarem, dá lugar aos simples Estados Unidos, um país rico, poderoso, mas sem aquele aplomb de seus melhores tempos e em franca decadência.

É uma coincidência curiosa que Reagan morra exatamente no momento em que a sua política, agora estandarte do filho de seu vice-presidente, alcança seus extremos mais nefastos.

Reagan está morto, e a América também.

De Rubempré

Eu fiquei curioso quando vi o nome de Luciano Chardon nos comentários.

Luciano Chardon é o maior personagem de Balzac, anti-herói de “Ilusões Perdidas”. Não é o meu preferido, “honra” que dou a Rastignac; nem mesmo o de Balzac que, dizem, morreu chamando pelo seu doutor Bianchon. Esses são como bons amigos, a quem amamos a despeito deles mesmos; mas sabemos que, por melhores que sejam, não chegam perto da grandeza do rapaz de Angoulême.

Assim como o Julien Sorel de Stendhal, Luciano é um rapaz talentoso e ambicioso, que sai da província para ganhar Paris. Abandona o nome burguês do pai, Chardon, e adota o nome da família da mãe, De Rubempré, com a partícula que indica nobreza. Mas é um caráter fraco; e seu fim, em “Esplendores e Misérias das Cortesãs”, não é dos melhores. Nem dos mais dignos.

Luciano é o melhor personagem de Balzac porque tem muito dele. Sua fraqueza, sua vaidade, sua ambição. Mais que qualquer outro personagem, Luciano é o alter ego de Balzac. Como Rastignac, é um jovem que quer conquistar a glória em Paris; mas enquanto Rastignac resiste a Vautrin e termina “O Pai Goriot” com um desafio à cidade e a sua sociedade (“A nous deux, maintenant“), Luciano tenta sempre o caminho mais fácil; para conquistar a glória ele não hesita sequer em se tornar amante de Vautrin. É fraco de caráter, apesar de sua boa natureza, e é isso que o destrói.

Mas é também o mais humano, o mais completo personagem daquele que eu acho o mais humano e o mais completo escritor da história da literatura. A grandiosidade de Luciano é praticamente inexplicável, e nenhum autor jamais chegou perto de tamanha complexidade humana– nem mesmo Dostoiévski, nem mesmo o Hamlet de Shakespeare.

Não foi isso que me deixou curioso, no entanto.

Acho que por respeito à grandeza do personagem e por, infelizmente, ver tantos pontos de semelhança entre ele eu, sempre fiz questão de me referir ao sujeito pelo sobrenome que ele escolheu: para mim, ele é Luciano de Rubempré. Um outro motivo é o de achar que enquanto se chama Luciano Chardon ele é pouco mais que uma cópia do Julien Sorel de “O Vermelho e o Negro”, e só se transforma em um personagem, na minha opinião, muito maior que seu modelo quando passa a almejar conscientemente essa nobreza que nunca vai conseguir ter.

É essa a pergunta, Luciano: por que Chardon?

Diante de Moisés

A estátua de Moisés esculpida por Michelangelo (uma martelada e “Agora, fala!”) fica na Basílica de São Pedro Acorrentado, edificada sobre o lugar onde São Pedro foi condenado à morte, em Roma.

É uma igreja escura, fria, por onde passam milhares de pessoas todo dia, lentamente, como a fila no velório de um ídolo; metade delas não conseguirá ver direito a estátua. Nenhuma delas poderá tocá-la. Nenhuma pode tirar fotos, avisados de que o acúmulo do flash das máquinas danificará o mármore, mas sempre há alguém que desrespeita essa norma; pedir tal coisa a um japonês é pior que enviá-lo ao harakiri. Lá fora, dezenas de camelôs tentam vender algum souvenir aos turistas, camisas e chaveiros e estatuetas e livros ilustrados. Punguistas rondam a praça atrás de uma vítima desavisada.

Olhando para ela, e conhecendo-a de livros e vídeos, você se pergunta qual a grande diferença real entre ver a estátua ao vivo e em fotos que dêm uma visão completa da estátua. Qual a diferença entre aquele objeto real e o que você construiu em sua cabeça, juntando pedaços e pedaços de informação, é o que você não consegue entender. Como Pasolini no final de Decameron, você se pergunta por que realizar, se imaginar é tão melhor.

A vida é bela na Central do Brasil

Li um texto do Alexandre no blog do Emy e da Ninha. Não tinha lido antes.

Um trecho dele me chamou a atenção:

Lembram, por exemplo, do episódio A Vida É Bela versus Central do Brasil? Não vou entrar no mérito da qualidade dos dois filmes, mas só em quão supremamente ridículo foi ver pessoas que eu considerava dignas de respeito malhando um filme, que muitas vezes nem tinham visto, só porque venceu Central do Brasil.

O Alexandre tem razão. O patriotismo ultrajado fez com que pessoas que acharam “A Vida é Bela” um grande filme caíssem de pau nele, porque nem mesmo “Cidadão Kane” tinha o direito de tirar o nosso Oscar de nossas mãos.

Vi os dois filmes antes do Oscar.

Quando “Central do Brasil” terminou, eu tinha certeza absoluta de que tinha visto o melhor filme brasileiro das últimas duas décadas.

E saí de “A Vida é Bela” com a impressão de que tinha assistido ao filme estupidamente medíocre que ia ganhar o Oscar.

Até aquele ano eu não tinha visto nada de mais nas derrotas dos filmes brasileiros. “O Quatrilho”, se me permitem, era um filme aborrecido, sem sequer a pretensão de ser profundo. “O Que é Isso, Companheiro” não era tão chato — mas era medíocre como cinema e uma má recriação dos fatos históricos. Não ganhar o Oscar era uma questão de justiça.

Mas se alguém me perguntasse que filme deveria ganhar o Oscar naquele ano, eu diria que “Central do Brasil”. Estou longe de idolatrar um filme só porque é produto do kinemanacional, mas aquele era sensível, doce, verdadeiro e tecnicamente correto. “Central do Brasil” merecia, sim, o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Infelizmente, ao assistir “A Vida é Bela”, vi ali uma obra de artesanato político competente e dirigida ao Oscar. Era um filme medíocre, bobo, como tantos e tantos outros. Mas era eficiente, e não se desviava durante um só segundo de seu objetivo. Tinha todos os elementos necessários para agradar à Academia. Uma comédia melodramática com protagonistas ítalo-judaicos (duas das mais influentes minorias americanas), num filme sobre a II Guerra (a única guerra santa dos americanos), com um garotinho inocente (quem resiste?) e um pai maravilhoso (pule de dez), de espírito leve e disposto a qualquer sacrifício por sua prole, que morre no final (apelo lacrimejante universal). E para completar os americanos aparecem no final como um deus ex machina salvador do mundo, uma auto-imagem muito cara ao establishment deles.

“A Vida é Bela” foi feita para isso, para levar a estatueta para casa. Não fiquei surpreso com sua vitória, o que não significa que tenha gostado. Eu queria que “Central do Brasil” ganhasse o Oscar, como quis anos antes que Pulp Fiction ganhasse. Achava que, mais que qualquer outro filme naquele ano, ele merecia o prêmio.

Mas é preciso lembrar uma coisa: aquela é uma festa dos americanos, pelos americanos e para os americanos. Os filmes brasileiros entraram lá de penetras, já estavam no lucro. O Oscar não é célebre por premiar a qualidade. Ele premia a sua indústria e seus padrões de entretenimento de massa, e estão corretos nisso. Quem achar ruim e não quiser jogar pelas regras do jogo, que vá para casa. Roberto Benigni simplesmente achou que a Itália ficava muito longe dos Estados Unidos. E fez o que era necessário para pagar a passagem.

Mesmo levando tudo isso em consideração, aquela cerimônia específica do Oscar me surpreendeu pela palhaçada em que acabou se transformando. Ainda lembro da revolta descontrolada de Meryl Streep ao ver Gwyneth Paltrow ganhar o Oscar de melhor atriz — tive a impressão de que a raiva por ter perdido seria um pouco menor se a vencedora fosse Fernanda Montenegro –, e da indignação de Tom Hanks ao ver o “marido da pata”, como Rubens Ewald Filho o chamou, ganhar o Oscar de melhor ator.

Isso eu, sinceramente, não esperava. Aquela cerimônia quase destruiu toda e qualquer credibilidade que o Oscar tinha, porque não havia justificativas além do que diziam ser a força da Miramax. Que seja.

Mas pelo menos me diverti com a reação de Roberto Benigni ao receber o Oscar — que duvido que ele esperasse. Foi a única pessoa a agir como a situação exigia. Ele é, por profissão, um palhaço. E tudo aquilo era um grande circo.

Notícias estranhas em um blog esquisito (XIII)

Um pesquisa mostra que americanos preferem a companhia de Bush à de John Kerry, em um churrasco regado a muita cerveja.

Faz sentido. Um bebum light é sempre a alegria da festa. E todo mundo sabe que Bush é chegado num goró.

O problema é que à medida que o tempo passa, o bebum passa a ser muito inconveniente, até o ponto em que precisa ser expulso da festa, geralmente depois de ter vomitado a casa inteira, passado a mão na bunda da cozinheira e tentado colocar o gato no microondas.

O pessoal que respondeu a essa pesquisa devia ter percebido isso. Era só olhar para o que o elemento anda fazendo com seu país. Tem sido a ressaca mais cara da história.

***

Dois pastores pentecostais canadenses impediram que um avião levantasse vôo de Buffalo, NY, alertando os passageiros de que os ataques de 11 de setembro eram um bom motivo para que eles rezassem.

Os pastores incovenientes deveriam ganhar o prêmio de pessoas mais chatas da face da terra. Infelizmente a matéria não dá o nome da igreja à qual pertencem. Mas eu tenho a séria desconfiança de que fazem parte da Igreja Inter-Americana do Mau Agouro.

Que diferença da Igreja Rafaélica de Todos os Tostões.

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Uma mulher foi acusada de dar uma queixa falsa de estupro para que seu namorado, um aviador, fosse liberado de sua missão na Coréia, e assim os dois pudessem se casar.

Essas mulheres andam mesmo desesperadas para casar.

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Essa é uma notícia triste.

Aliás, é a notícia mais triste já postada aqui.

Um cinqüentão da Zâmbia se suicidou depois de ser flagrado pela mulher enquanto fazia safadeza com uma galinha.

Ainda tentou matar a esposa curiosa mas, como não conseguiu, enforcou-se.

Os diálogos no funeral devem ter sido mais tristes ainda.

— Por que ele se enforcou?

— Ele estava me traindo com uma galinha.

— É, essas mulheres que se metem com homens casados são umas piranhas…

— Não, galinha, mesmo!

— E eu não sei? Olha, eu nunca contei isso, mas no ano passado meu marido me traiu com uma galinha dessas.

— E o que você fez?

— Eu dei um ultimato: ou eu ou aquela vaca.

— Peraí: vaca ou galinha?

— Vaca, galinha… Que diferença faz? É tudo puta.

— Faz muita. Se for uma vaca holandesa, por exemplo…

— E onde aquele vagabundo iria achar uma holandesa? Que holandesa ia dar praquele neguinho magrelo que não quer nada com a hora da Zâmbia? Foi com a vizinha, mesmo!

— Uma vaca é melhor que uma galinha. É maior, sabe como é… Peitos grandes…

— É tudo a mesma coisa. Tudo puta.

— O problema é que quando eu o vi com a galinha na mão, voando pena pra tudo quanto é lado…

— Pena?

— Pena.

Silêncio.

— Você tá falando de uma galinha de verdade?

— Tô.

Silêncio.

Mais silêncio.

— Ahn… Me dá licença, sim? Querido! Querido!

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Uma sul-coreana foi condenada a pagar US$ 42,380.00 ao seu marido por ter tido um filho com outro homem.

Corno, sim. Mas pagando bem, que mal tem?

***

Uma revista inglesa publicou o resultado de uma enquete que elegeu um espumante inglês melhor que o champanhe.

Claro. A comida inglesa, como se sabe, é infinitamente melhor que a francesa. Era só uma questão de tempo até o vinho inglês, reconhecido mundialmente, atingir o topo.

***

Uma senhora sueca, cansada de ouvir os gritos, gemidos, sussurros e outros ruídos de seu casal de vizinhos, resolveu tomar providências e deu queixa num comitê de saúde ambiental.

Ela reclamou que o casal caía na saliência praticamente todas as noites, das dez da noite a quase 1 da manhã.

É impressionante o que a inveja faz às pessoas.

Pais e filhos

Neil Gaiman (Sandman, lembra?) tem A Conversa com sua filha:

(…)and then came Lou Reed’s “Walk on the Wild Side”. “You named me from this song, didn’t you?” said Holly as the first bass notes sang. “Yup,” I said.

Lou started singing.

Holly listened to the first verse, and for the first time, actually heard the words.

“Shaved her legs and then he was a she…? He?”

“That’s right,” I said, and bit the bullet. We were having The Conversation. “You were named after a drag queen in a Lou Reed song.”

Eqüinoterapia

Como Figueiredo, prefiro o cheiro de cavalos a cheiro de povo.

Essa é, aliás, a única razão pela qual admiro o bronco. Gosto da honestidade canalha do sujeito. E nossa estética olfativa semelhante me faz pensar que aquele sujeito não era tão mau assim.

Já fui mordido, escoiceado, derrubado. Já caí sozinho, também, naquelas mostras de idiotice que fazem as pessoas rirem de você por anos. Já caí na conversa de cavalos manhosos que fazem o que querem quando percebem que você não tem pulso suficiente para mandar.

E também já fiz minhas maldades, já recorri com liberalidade a uma combinação cruel de esporas e bridão quando algum cavalo tentou me derrubar sem que eu considerasse a tentativa justa.

Entre tapas e beijos, a gente vai seguindo em frente.

É por isso que nunca consegui entender, de verdade, a sensação de pessoas que se deslumbram quando aceleram seus carros a 160, 180 quilômetros por hora. Porque não acho que isso possa se comparar a sensação de deixar o seu corpo acompanhar o movimento do cavalo em seu galope, em ter nas rédeas o seu único e frágil controle. Selas não têm cinto de segurança.

Um carro é só uma máquina. Anda se você acelera, pára se você freia. Mas sobre um cavalo há sempre um confronto de vontades, a sua e a dele. São dois seres vivos que querem coisas diferentes.

Se eu tivesse algum problema neurológico sério, além daqueles com os quais já convivo há tanto tempo e que disfarço na medida do possível, eu iria querer que me matriculassem num curso de eqüinoterapia. Aposto que eu seria feliz.