Qualquer fé que eu tenha no gênero humano se vê abalada quando vejo a repercussão que alucinados como o José Vicente Dias conseguem na mídia que dizem combater.
Dias é presidente da ONG “Mensagem Subliminar”, e parece dedicar seus dias a descobrir mensagens ocultas na mídia.
Mensagem subliminar apontada por Dias: “A boneca Barbie, por exemplo, não diz ‘não coma’, mas passa uma mensagem subliminar de que ‘ser magra é ser bela'”. Não vejo o que há de subliminar nisso, mas o Dias parece acreditar que está descobrindo, ao mesmo tempo, o fogo, a roda e a pólvora. E dá uma importância conspiracionista a algo que é escancarado.
As acusações de Dias vão do óbvio reduntante ao francamente fantasioso. Por exemplo, está alardeando que Gilberto Gil faz apologia da maconha no clipe de Three Little Birds, em que Bob Marley solta longas baforadas de fumaça. Seriam uma mensagem escondida de que aquilo é maconha.
Se ele não me contasse eu jamais acreditaria. E o que é mesmo aquela planta na capa de Kaya, disco de Bob Marley? Embora seja pouco óbvio, desconfio que seja maconha. Mas ninguém ia acreditar se eu dissesse. Bob Marley, afinal, era conhecido pela ojeriza à cannabis.
No campo do fantasioso há a teoria novíssima de que Paul McCartney morreu.
Notícia velha de 69, essa. Nasceu em uma rádio universitária do Texas. Disseram que McCartney tinha morrido num acidente de carro, e como os Beatles não podiam parar arranjaram um sósia, Wlliam Campbell (ou Shears, dependendo da versão que você ouça). Para evitar que a fraude fosse descoberta, pararam de fazer shows ao vivo.
Mas os Beatles, por alguma razão que só a maconha na cabeça dos estudantes pode explicar, passaram a incluir pistas do ocorrido em suas músicas e nas capas dos seus discos, culminando quando, na capa do Abbey Road, representam um enterro (Lennon o padre, Ringo o papa-defunto, George o coveiro e Paul seria o morto porque em alguma cultura desconhecida os mortos são enterrados descalços) e colocam um fusca cuja placa é 28 IF — ou seja, Paul teria 28 anos se estivesse vivo. São muitas teorias — e quiser, você pode inventar a sua. Se não quer perder tempo, aqui há uma boa lista das pistas.
A única coisa verdadeira em tudo isso é que McCartney realmente sofreu um acidente em 1966. Não de carro, mas de moped, uma espécie de motoneta. Perdeu um dente e ganhou uma cicatriz na boca, que o fez deixar crescer o bigode e que pode ser vista na foto que acompanha o Álbum Branco.
Por idiota que sempre tenha sido, essa teoria podia ser compreendida nos anos 60, quando a bruma de LSD, maconha e rebelião social em que se vivia dava aos Beatles uma importância que eles nunca tiveram. Mas insistir nessa bobagem 35 anos depois é deboche, só pode ser deboche.
O livro do Zé Dias está pronto e espera apenas uma editora. Que, se aparecer, vai destruir para sempre a minha fé na inteligência editorial deste país.
(A propósito, os Beatles evoluíram estupidamente em 1966, depois de uma fase de transição em 1965. Se McCartney realmente morreu, a música saiu ganhando. William Campbell, ou Shears, é muito, muito melhor que McCartney.)
(Também a propósito, eu tenho uma teoria que vai chocar o mundo: Lennon está morto. E Harrison também.)