O fim de uma era

A partir do ano que vem, Taiwan vai abandonar um dos principais traços da cultura chinesa: a escrita de cima para baixo e da direita para a esquerda.

Todos os documentos oficiais do governo deverão ser escritos como no ocidente: na horizontal, da esquerda para a direita.

A pergunta é: cadê o Mércio Gomes para defender a escrita tradicional, dizendo que é a cultura dos índios de lá?

Teoria rafaeliana

Entre Marte e Júpiter há um cinturão de asteróides. Ainda mais provável que a visita de ET’s a este planetinha azul é a hipótese de ele ter sido, um dia, um planeta.

A nova teoria rafaeliana, catalogada sob a categoria “bobagens de quem tem o que fazer mas fica procrastinando”, é a de que aquele foi, em tempos idos, um planeta cheio de vida inteligente, destruído por um asteróide cuja órbita foi alterada graças à gavidade de Júpiter. Destroços do planeta, carregando seres microscópicos, caíram na Terra, dando origem à vida aqui.

Não recomendo que ninguém perca seu tempo tentando provar que isso não é verdade. De teorias desse tipo o mundo já está cheio, por que vão escolher logo a minha para esculhambar? É tão boba criativa e cientificamente embasada quanto as outras. Todas as outras.

Mais fácil é mostrar que algum outro bobo já pensou nisso antes. Mais fácil e mais humilhante: não ser original, infelizmente, me dói mais que não ser verdadeiro.

Rafael G., 33 anos, esquerdista, libertário

Testezinho via nomínimo: em que parte do espectro político você se encontra?

Eu fiz e deu o seguinte:

De pé, ó vítimas da fome

Acontece que o teste só retrata uma parte das coisas. Não conta, por exemplo, que há alguns anos eu seria bem mais libertário e bem mais esquerdista. E que quando chegar aos 60 anos vou ser um reacionário que não vai poder ler o jornal sem xingar Deus, o mundo e o vizinho do 702 que continua insistindo em fazer barulho em suas orgias quando eu preciso dormir para jogar dominó na praça na manhã seguinte.

Blogger Reloaded

O Blogger (o americano; o brasileiro continua a mesma coisinha) fez um update admirável em seus sistema.

Agora, além de templates próprios decentes, você pode até enviar posts por e-mail. Há uma série de melhorias, como arquivos individuais de post, e uma série de outros. Vale a pena conferir.

Mas o melhor, mesmo, é que ele finalmente tem um sistema próprio de comentários.

Embora eu continue preferindo o Movable Type, e essa mudança tenha vindo tarde demais para mim, o Blogger finalmente passou a ser uma ferramenta decente de publicação.

Minha Vida, Meus Amores

Literatura erótica me entedia profundamente.

Mas houve um tempo em que não era assim, um tempo em que os hormônios se manifestavam de formas belas como a apreciação platônica de singularidades femininas e hediondas como espinhas na cara.

Em 1987 eu e um amigo pegamos três livros na biblioteca pública. Eu peguei The Adventures of Huckleberry Finn, para comparar com a edição brasileira e melhorar o meu inglês. Ele, mais pragmático do que eu, pegou “Sodoma e Gomorra” e “Minha Vida, Meus Amores”. Os títulos eram sugestivos demais para que ele deixasse passar a oportunidade. E ele era famoso por, invariavelmente, derrubar as prateleiras da sessão de filmes pornô nas videolocadoras que freqüentava. Não falhava: era só entrar na locadora e as caixas das fitas, com títulos sugestivos como “No Calor do Buraco”, caírem uma a uma como numa coreografia de Busby Berkeley.

Por coincidência, nunca devolvemos os livros. Esquecemos o prazo de devolução, não tínhamos dinheiro para pagar a multa e resolvemos deixar para lá.

Não demorou muito para ele me dar os livros. Se sentia torpemente enganado. “Sodoma e Gomorra” era de um viadinho francês chamado Marcel Proust, e “Minha Vida, Meus Amores” era de um chato chamado Frank Harris que tornava a saliência literária demais. Assim não tinha graça.

Ainda não foi daquela vez que li Proust, mas fiquei encantado com o livro de Harris.

Frank Harris foi um sujeito que na virada do século XX fez grande sucesso como editor, principalmente da Saturday Review; foi amigo de Oscar Wilde até o fim. Suas memórias — das quais só li o primeiro volume, aquele — tinham causado um certo escândalo na época por serem licenciosas demais. Além de descrições detalhadas de suas aventuras sexuais, ele ainda encontrava tempo para dizer, entre outras coisas, que Carlyle era impotente.

Dizem que Harris era mentiroso de dar dó. Não interessa. O que mais me fascinava eram suas aventuras sexuais. Ele as descrevia com palavras terríveis: “os páramos da volúpia”, “o relicário sagrado do meu desejo”, e outras do tipo — mas sem deixar de explicar tudo tim-tim por tim-tim. Foi um grande guia.

Descobri agora os outros volumes da autobiografia de Frank Harris. Não vou ler.

Belle Époque

Cartaz francêsEste cartaz francês para uma marca de absinto, do início do século passado, é de uma crueldade absurda.

É como se o artista, morando numa mansarda em Montparnasse, revoltado por finalmente perceber que seus quadros nunca venderão e que como ilustrador ele jamais chegará aos ombros de um Toulouse-Lautrec, tivesse decidido demonstrar todo o seu desprezo à burguesia na sua encomenda. E com que prazer ele deve ter conseguido convencer aquele comerciante abrutalhado de que essa peça era sensual e lhe traria lucros estupendos. Com o dinheiro no bolso, dirigindo-se à casa de ópio, ele deve ter se sentido reconfortado por sua pequena vingança.

O honrado e elegante senhor parece estar dizendo com o olhar coisas indizíveis à moça que bebe com circunspeção. Espera sua presa com uma calma antecipatória do prêmio. E traduz o lado obscuro da Belle Époque — ou talvez o mais brilhante deles.

A diferença entre estrelas de primeira e sexta grandeza

Andei lembrando do famoso show do Legião Urbana em que o pau comeu no Mané Garrincha, em Brasília.

Não lembro direito como as coisas começaram. Se não me engano, foi por bobagem, bombinhas de São João explodindo no palco. Renato Russo, estrela, resolveu parar o show e passar um sermão arrogante — e o resultado foi o que se viu.

Lembrei também do show dos Stones no Brasil. Jagger cantava Satisfaction quando algo voou em sua direção. Ofuscado pelos holofotes, ele certamente não viu o que era. Então se abaixou, meio amedrontado, e continuou cantando. Era só uma camisa.

Jagger viu um homem morrer na sua frente, esfaqueado pelos Hell’s Angels em Altamont, no show que é considerado o marco do fim da era hippie. Em outro show, ao ver que alguém invade o palco, o escaldado Richards tira a guitarra e se prepara para dar uma porrada no sujeito, que dá a sorte de ser controlado pelos seguranças.

Não é preciso sequer fazer comparações entre a dimensão histórica de Mick Jagger e de Renato Russo, que Deus o tenha. A diferença de atitude entre eles, em episódios semelhantes, mostra a distância intransponível entre astros de verdade e meras imitações.

Excesso de velocidade

A típica notícia da Reuters: donos de BMW fazem mais sexo que os proprietários de outros carros, segundo pesquisa alemã.

Enquanto o dono de um BMW faz sexo, em média, 2,2 vezes por semana, os infelizes donos de um Porsche fazem apenas 1,4.

Duas conclusões, portanto.

A primeira é que os chauffers de Porsche fazem menos saliência porque são rápidos demais. Têm ejaculação precoce.

A segunda: qualquer dono de fusca 83 a álcool tem uma média sexual melhor que essa mixaria alemã.

(A propósito, eu não gosto de dirigir.)