Deus sabe que há coisas melhores e mais importantes para se pensar, mas me peguei pensando em Yoko Ono.
Nos últimos 30 anos, as pessoas vêm discutindo se ela foi ou não responsável pelo fim dos Beatles — no que isso possa interessar a alguém; por melhores que fossem, eram só uma banda pop, e há um limite para o que uma banda pode representar.
Para alguns, a presença de Yoko sempre ao lado de Lennon foi um dos principais motivos para o fim da banda. Para outros, isso não importava tanto: o que importava eram as tensões crescentes por outras razões, principalmente financeiras.
Eu estava entre os que não davam tanta importância a Yoko. Achava que a banda tinha terminado porque as pessoas crescem e sua hora havia chegado. Mas agora, pensando nisso, vejo que no fim das contas ela foi fundamental no processo.
Se é que se pode definir uma causa externa para a separação, ela seria Allen Klein, o empresário que John e Yoko arranjaram para substituir Brian Epstein depois que viram que sua utopia empresarial, a Apple, era um fracasso completo.
Klein era um ladrão de marca maior — os Stones até hoje se arrependem de tê-lo tido como empresário. Foi para a cadeia por roubar dinheiro de George Harrison. E se conseguiu entrar em território fechado como os Beatles, uma banda notória pela sua unidade e impermeabilidade, é porque conseguiu o apoio de Yoko e, conseqüentemente, de Lennon. Ele seduziu Yoko lhe oferecendo a glória artística (e caiu em desgraça junto a Lennon, poucos anos depois, quando passou a dar a Yoko a importância devida — ou seja, pouca). E com isso fez com que Lennon batesse pé em sua defesa; como McCartney queria seu sogro, os dois racharam a banda, sendo que Lennon teve George e Ringo ao seu lado.
Para evitar ser abocanhado por Klein, McCartney se viu obrigado a pedir judicialmente o fim da banda. Curiosamente, foi esse processo e sua recusa em ser empresariado por Klein que salvou a fortuna e a independência dos Beatles. Até hoje McCartney demonstra certa mágoa por nunca ter recebido o agradecimento que acha que merece.
É, acho que preciso pensar em coisas mais relevantes.