A espiritualidade de nossos dias

A Cosmopolitan (que no Brasil é editada sob o nome de Nova, embora seja dirigida a Velhas sem Homens), em resposta aos tempos difíceis no mercado editorial, agora tem uma coluna sobre espiritualidade em sua edição inglesa.

Não sei como é a coluna, mas levando-se em conta o material que a revista normalmente publica, deve ser algo parecido com “Ai, meu Deus… Ai, meu Deus… Minha Nossa Senhora… Ui, meu Deus… Uuuuuui, meu Deus… Aaaaaaaaaaaaaaaaai…”.

As novas regras da casa da Mãe Joana

Até agora meu sistema de comentários permitia o anonimato, ou seja: você não precisava digitar um e-mail válido para postar.

A razão era simples: mais cedo ou mais tarde, spambots vão correr este site em busca de e-mails para venderem a spammers. E se as pessoas deixam seus endereços aqui, eu me sinto responsável por eles.

No entanto, algo me diz que mais cedo ou mais tarde vou receber comentários inteligentes e educados como o da Nina. Não é muito comum — até agora foram dois casos, apenas –, mas é melhor prevenir. E eu não compro a idéia de que se não quero receber comentários desagradáveis e ofensivos não devo postar nada ou disponibilizar espaço para comentários. Por essa lógica, se não quero ser assaltado não devo sair de casa. É uma inversão de valores muito pouco saudável.

O Movable Type tem um sistema de proteção que já vem instalado no sistema de comentários. Através da tag <$MTCommentAuthorLink spam_protect="1"$>, ele mascara o e-mail incluído nos comentários. Por exemplo, ze@jose.com vira ze@jose.com.

Mas isso é subestimar os canalhas que fazem spambots. Descobri uma outra tag: <$MTCommentAuthorLink show_email="0"$>, que faz com que os e-mails nunca sejam exibidos (eu, no entanto, os recebo por e-mail).

Portanto, uma combinação dos dois (<$MTCommentAuthorLink spam_protect="1" show_email="0"$>) resolve o problema.

Com a minha consciência em paz, cumpro o triste dever de anunciar que, a partir de agora, só será possível postar comentários aqui digitando um e-mail válido.

Notícias estranhas em um blog esquisito (VI)

Milhares de vietnamitas estão fazendo romarias a uma praia no sul do Vietnã para louvar uma baleia morta. Eles acreditam que uma baleia morta que dá à praia é sinal de boa pesca. A baleia já começou a se decompor.

Já que eles estão adorando qualquer coisa, vou me mudar para o Vietnã. Sempre tive vocação para deus. E certamente cheiro melhor que a baleia putrefata.

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Um scammer foi rastreado pelo administrador de um cybercafé em Londres, quando enviava mais um daqueles scams nigerianos. Na luta com a polícia que se seguiu, ele tentou se livrar das provas da mesma forma como via os espiões fazerem nos filmes.

Mastigou o cartão de memória que as continha.

Não deu certo. E ainda não sei se foi para sua sorte ou não. Talvez ver o seu sofrimento no dia seguinte fosse mais interessante que vê-lo condenado.

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Lembra da mulher com um tumor de 80 quilos (ou melhor, do tumor gigante com uma mulher)?

Ela saiu do hospital segunda-feira.

O tumor recebeu alta há dois meses e meio.

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Um alemão foi escoltado até o seu casamento pela polícia, que o tinha prendido um pouco antes por dirigir bêbado.

Não conheço o sistema penal alemão, mas acho que a pena foi pesada demais. Cadê a Anistia Internacional nessas horas?

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A Transilvânia é aqui.

Vampiros — ou melhor, morcegos hematófagos — mataram 13 pessoas numa cidade do Pará, de acordo com a Reuters.

Os morcegos são do tamanho da unha do polegar, atacaram mais de 300 pessoas no último mês e são transmissores de raiva.

Essa coisa de o Brasil chegar ao primeiro mundo está me preocupando seriamente.

Até agora só estamos pegando a banda podre dele: furacões, acidentes espaciais, e agora Dráculas em miniatura.

10 anos sem Kurt Cobain e a falta que ele me faz

Quando o Nirvana tocou num festival qualquer aqui no Brasil pude definir minha opinião sobre Kurt Cobain.

O que vi no palco foi um sujeito caindo de tanta heroína, que ao cuspir na câmera metaforicamente cuspia no prato em que comia mas certamente não deixou de exigir o seu cachê, e que achava que mostrar o pintinho pequenininho era “atitude”. Rock and roll, yeah!. Um babaca, em suma.

Lembrei disso agora que todo mundo está comemorando os 10 anos de sua morte. É um dos raríssimos casos em que minha minha opinião não mudou em uma década.

De focas e vacas

Tome, desgraçado! Quem mandou nascer foca em um mundo de idiotas?Não acho provável que algum dia assinasse qualquer manifesto em defesa dos animais. Gosto de bichos na medida em que me são úteis — e tenho uma preferência bem definida por animais de carne macia e saborosa.

Mas a imbecilidade em se caçar filhotes de foca para atender à vaidade burra de uma vaca irrita até antropocentristas inveterados como eu. É revoltante que se mate um filhote porque uma perua cafona acha que fica mais bonita com um casaco feito com sua pele, usando-o como substituto de falos que a tratam com desdém.

A ação dos caçadores foi diminuída a partir dos anos 70, quando a indignação mundial fechou mercados importantes como o americano. Mas nos últimos anos, como a idiotice é recurso renovável e inesgotável, o Canadá vem fazendo a festa. Aumentou a cota de animais que podem ser caçados anualmente, de olho em novos mercados como a Polônia e a Rússia, onde putas e mulheres de mafiosos descobriram com atraso as maravilhas bregas do capitalismo.

350 mil filhotes de foca serão mortos este ano. Atualmente é proibida apenas a caça dos filhotes mais novos, com menos de 12 dias e cuja pelagem ainda não escureceu, os whitecoats.

A maioria dos filhotes de foca mortos têm menos de um mês de idade e ainda não aprenderam a comer sólidos ou a nadar. Eles são mortos com uma ou duas pauladas na cabeça.

Metano em Marte

Encontraram metano na atmosfera de Marte. Para alguns cientistas é sinal de que existe vida naquele planeta, já que há duas fontes possíveis: vulcões ativos, que até agora não foram encontrados, ou micróbios.

O cientista Rafael Galvão tem uma outra teoria. Vacas flatulentas. É, as mesmas que, segundo uns ecologistas espalharam há uns dez anos, estavam contribuindo para o efeito estufa na Terra.

Os xiitas contentes

Acho que escrevi algo no outro blog sobre o Iraque de Saddam ser, pelo menos, uma sociedade secular, e como a retirada dos sunitas do poder poderia afetar essa situação e agravar o problema no fundamentalismo islâmico no Oriente Médio.

Agora que os xiitas estão se rebelando contra os Estados Unidos, tudo indica que a situação no Oriente Médio só tende a piorar. E chegou-se a um ponto em que Kerry, o próximo presidente dos Estados Unidos, vai ficar com uma batata quente nas mãos e sem nenhuma alternativa fácil, sem poder sair e sem poder ficar.

Alguém bem que poderia dizer a Bush: “Viu a merda que você fez?”

(E ué, as pesquisas não diziam que os iraquianos estavam felizes com a invasão libertação trazida pelos americanos?)

Van Meegeren

Falsificação de Van MeegerenSe alguém me pergunta qual é o meu pintor favorito, minha primeira reação é dizer que não sei. Tem horas que fico babando por Modigliani, tem horas que fico olhando para Dali, tem horas que fico perdido na Cabeça VI de Francis Bacon, ou na cor de Ticiano, ou no tom alabastrino de pele em um quadro de Renoir que vi no MASP.

Mas se tiver tempo para pensar, eu respondo que meu pintor favorito é Van Meegeren.

A história dele é uma das mais gostosas que eu conheço. Van Meegeren era um artista plástico holandês, clássico numa era em que a arte moderna dava as cartas. Seu trabalho era desprezado por todos os críticos. Então resolveu fazer uma sacanagem: falsificou um quadro de Vermeer. Os críticos adoraram. O que nasceu como uma pegadinha virou um bom negócio quando ele vendeu a tela pelo equivalente a alguns milhões. Fez mais algumas, e se tornou um milionário. Göering comprou uma de “Vermeer”, e quando os aliados a descobriram acusaram Van Meegeren de colaboracionista. A pena pela colaboração com os nazistas era a morte, e Van Meegeren preferiu se assumir como falsário. Ninguém acreditou. Ele teve que pintar um quadro sob os olhos da polícia para que acreditassem nele. Foi condenado mas morreu logo depois, considerado um herói nacional por ter levado os boches no bico, por ter humilhado os críticos e por conseguir sair da confusão ileso — ele nunca chegou a ser preso — e milionário.

Van Meegeren nunca pintou uma cópia. Seus quadros eram originais. O estilo também era um pouco diferente, pertencia sempre a outro estágio da evolução artística do pintor. Era uma exigência do ofício, mas também transformava a obra de Van Meegeren em algo tão seu quanto de Vermeer.

A história de Van Meegeren me fascina pelo xeque que ele deu na crítica de arte. O quadro era dele, mas só tinha valor se achassem que era de Vermeer. Van Meegeren expôs ao ridículo todas as convenções críticas, mostrou o grande conto do vigário que no fundo é o mercado de arte, e deixou no ar mais perguntas do que alguém tem coragem de responder. A principal delas: afinal, qual é e como se define o valor de uma obra de arte?

Para aqueles que sentem saudades do sol

Para aqueles que, como eu, acham um dos maiores tormentos do mundo dormir e acordar cedo, o Seattle Times tem uma matéria ensinando a enganar seu relógio biológico.

A idéia de acordar e dormir cedo é uma herança maldita dos tempos em que não havia luz elétrica. As pessoas acordavam cedo para aproveitar o máximo possível da luz solar, o único momento em que elas podiam ser produtivas. Além disso, a noite era perigosa, em todos os sentidos. Elas podiam se perder, as feras podiam atacá-las.

Para que se tenha uma vaga idéia de como a noite era um período tão ruim, tão diabólico, era nesse período que aquela raça miserável se reproduzia, se preparando para assolar a Terra e extinguir os outros seres vivos.

Em tempos de internet virou um anacronismo imperdoável.

Durante muito tempo, me conformei com essa ditadura porque, afinal, pensava fazer parte de uma minoria. Mas eu estava enganado, e essa revelação me deixou chocado até agora. Segundo especialistas em sono, 10% das pessoas são matutinas, e 20% são noturnas (o resto fica no meio, se virando como pode). Ou seja: nós estamos sendo vítimas das taras de uma minoria.

E eu que um dia pensei que a Internet iria nos livrar dessas convenções pré-históricas.

Notícias estranhas em um blog esquisito (V)

Deve ter sido assim.

Teclando rápido no seu computador, Michael Todd Howard finalmente conseguiu marcar um encontro com a mulher que conheceu em um site de bate-papo sobre fantasias de estupro. Durante horas, haviam falado sobre como ela gostaria de ser “estuprada”, sobre a violência que ela gostaria de ver aplicada a sua carne macia, sobre as ordens imperiosas que ela gostaria de receber, sobre a delícia de a ver subjugada ante seus caprichos.

Durante as horas que precederam o encontro ele pensava em como faria: os limites que deveria respeitar, os limites que ela queria que ele desrespeitasse. Que sorte tinha dado por conhecer uma mulher que lhe possibilitaria realizar aqueles desejos que ele tivera vergonha de expressar a todas as suas namoradas.

Na hora combinada Michael estava diante da casa dela. Todas as luzes estavam apagadas. Ele esgueirou-se pela janela e foi até o quarto. Como haviam combinado, atacou e bateu na mulher, que se mostrou surpresa e aterrorizada. A fantasia se realizava.

E então ele foi parar na delegacia, porque tinha entrado na casa errada.

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Numa feira de inventores em Taiwan, a invenção que fez mais sucesso era uma camisinha que vibra.

Sei não. Acho que os fabricantes de consolos para senhoras solitárias e ardentes vão entrar com uma ação. Esse sujeito está provando que, afinal de contas, o jeito tradicional ainda é melhor — e quando não é, uma pequena ajuda dos amigos pode resolver o problema.

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Um sujeito vendeu as Everglades da Flórida (basicamente um brejão sem tamanho) a um grupo de investidores — pelo visto pouco inteligentes — por 300 mil dólares.

(Na verdade nem sei porque incluí essa notícia aqui. Afinal, cariocas vêm vendendo o Pão de Açúcar a mineiros incautos desde que o mundo é mundo.)

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Um canadense que ganhou 23 milhões de dólares numa loteria esperou quase um ano até reclamar seu prêmio.

Agiu assim porque não queria fazer nada impensado com tanto dinheiro. E vem sendo descrito como o homem mais paciente do mundo, não sem razão.

Mas é também o mais idiota, porque passou um ano a menos rico.

De qualquer forma, pode-se ter certeza de que ele não fará nada impensado. Jamais. Ele simplesmente não é capaz disso — e isso não é um elogio.