Briga de branco

Jacob Sullum, do Hit & Run, um excelente blog americano, irritado com o puritanismo anti-tabagista de sua terra — o condado de Orange baniu o fumo de parques onde crianças brinquem, apesar de serem locais abertos — lançou a proposta de banir gordos dos parques; diz ele que faz sentido, já que o excesso de peso acaba de ultrapassar o fumo como causa de mortes nos EUA.

E Rafael Galvão, do Rafael Galvão, um excelente blog brasileiro, fica no meio do fogo cruzado sem saber o que fazer, mas com a impressão de que em breve não poderá andar em parques.

Melhor que Hitchcock

Vai, diz que você nunca afirmou que poderia fazer algo melhor do que alguém que foi regiamente pago para aquilo. Por exemplo, “até minha avó faria esse gol”.

Agora você tem a chance de provar que faria mesmo, editando a cena do chuveiro em “Psicose” melhor do que Hitchcock.

O Saul Bass Studios (Bass foi um dos maiores title designers da história, e morreu há alguns anos alegando ter dirigido a cena, no que é desmentido por todo mundo) tem um aplicativozinho em Flash que lhe permite isso.

Vai lá. Se você tem coragem.

Notícias estranhas em um blog esquisito (II)

Esta mulher, certamente, deveria receber o Darwin Award, se não fosse o fato de o prêmio ser destinado apenas àqueles que morrem em conseqüência das próprias cagadas.

Ela, em liberdade condicional, ligou para o seu oficial de fiança por engano para lhe vender drogas.

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Uma senhora de 72 anos foi condenada por crueldade contra os animais por manter em casa 235 chihuahuas em péssimas condições.

Esse tipo de comportamento deveria ser descriminado. Manter um só chihuahua em casa não é caso de cadeia, é caso de tratamento psiquiátrico.

O diagnóstico eu mesmo posso dar: masoquismo.

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A casa onde Bill Clinton passou a infância está à venda no e-Bay.

Se eu tivesse dinheiro, juro que comprava. Nunca escondi que sou fã de Bill Cigar Clinton.

Na casa, eu montaria uma tabacaria (que se chamaria “À Estagiária de Ouro”) ou um bordel, o “Sala Oval”.

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Um hindu de 25 anos casou com sua avó de 80 para tomar conta dela.

(Só isso. Sem comentários. Precisa?)

Oito por um

Um bebê foi submetido, em Miami, a um transplante recorde: recebeu 8 novos órgãos.

A questão é: esses oito órgãos teriam servido para garantir a vida, provavelmente, de oito outros bebês que só precisavam de um órgão cada.

É esquisito falar de vidas como se falássemos de números. Mais esquisito ainda porque se trata de um bebê — temos um respeito especial pela vida de crianças, um respeito que normalmente não temos pela vida de um adulto.

Mas do ponto de vista da sociedade, o que é realmente importante? O que seria mais válido? Se devemos nos esforçar para salvar uma vida, qual esforço tem mais valor? O máximo que podemos dar de nós mesmos para um só ou o suficiente para oito?

Pode-se argumentar que uma criança que precisou de 8 órgãos para continuar viva tem problemas crônicos para sobreviver. E que dificilmente esse transplante múltiplo terá sucesso.

Por outro lado é uma vida, e deve-se fazer o possível para preservá-la.

Isso me lembra um caso que vi na ABC News há muitos anos, na época em que a Bandeirantes exibia esse jornal. Uma criança com uma deficiência sem solução (não lembro se era paralisia cerebral) tinha seus custos médicos pagos pelo seguro social. E vinha crescendo uma espécie de celeuma entre aqueles que se auto-intitulavam contribuintes: eles não achavam justo que se gastasse o dinheiro deles, que poderia ser gasto de forma mais pragmática, em um caso sem solução, cujo único objetivo era manter vivo um ser sem esperanças de vida.

Até que ponto o coletivo deve suplantar o individual? Qual o limite de esforços para preservar uma vida? Duvido que essas perguntas tenham resposta.

Mea culpa, mea maxima culpa

Ando me perguntando por que exigir do kinemanacional padrões que não esperamos de outros países.

Assisti ultimamente a uns filmes franceses recentes, ruins. Espanhóis, ruins. Americanos — alguém espera outra coisa? Mexicanos, ruins. Iranianos não, que eu me respeito.

Mesmo diante de um cenário tão universalmente morno, do kinemanacional exigimos que apresente, a cada novo filme, a obra prima definitiva. E quando não apresenta, não perdemos tempo em dizer que o kinemanacional tem que comer muito feijão — talvez mais apropriado fosse dizer “hambúrguer” — até chegar a um patamar aceitável.

Estava assistindo a “Intolerância”, um filme com Maitê Proença e Roberto Bomtempo. Não é uma obra prima — mas é bem razoável, simples, com um roteiro bem resolvido. É um filme que não tenta carregar nenhuma bandeira, não tenta resgatar nenhum aspecto da cultura nacional. Apenas conta uma história. E assim como ele, há vários filmes corretos feitos nos últimos 10 anos– além de alguns excelentes, como “Central do Brasil”, “Cidade de Deus” e mais alguns.

Enquanto isso Hollywood, com uma produção muitas dezenas de vezes maior, pare raramente grandes obras com muito esforço.

Muitas vezes é difícil avaliar objetivamente um filme brasileiro. Pelo preconceito que anos de má qualidade deixaram, mas também porque é algo muito próximo. Acostumados a tentar nos espelhar em uma cultura alienígena, a nossa relação com o que é verdadeiramente semelhante se torna complexa. Mas, acima de tudo, está a síndrome da Copa, a mania que temos de esperar que tudo o que fazemos seja absoluto. Nossa seleção tem ganhar todas as copas do mundo, nossa música tem que maravilhar o Carnegie Hall anualmente, nossos filmes têm que ser melhores que qualquer outro.

O nosso complexo de superioridade, como bem podem atestar nossos vizinhos sul-americanos, talvez faça com que estabeleçamos um padrão alto demais para a média do kinemanacional.

Talvez, talvez.