A crueldade do "Eu não pensei"

Já devo ter escrito sobre isso aqui antes: não considero ignorância desculpa para absolutamente nada. Talvez seja um pouquinho mais tolerante em relação à burrice. De qualquer forma, a maior ofensa que conheço é chamar alguém de burro. É assim que xingo a mim mesmo.

Ignorância e burrice fazem mais mal ao mundo do que a maior parte dos canalhas e maus-caracteres. São responsáveis pela injustiça, pela falta de beleza, por tudo o que me incomoda no mundo.

A frase que encima este post foi lida em algum livro há mais de 20 anos, cujo título não consigo lembrar. A mim serve como alerta, sempre.

É a ignorância que faz os homens da África acharem que curarão a Aids que os consome se fizerem sexo com uma virgem, assim como brasileiros achavam que o mesmo os curaria de suas sífilis e gonorréias.

Talvez os possamos desculpar pela ignorância e pela falta de raciocínio. Esperemos apenas que as jovens que contraem Aids em sua primeira relação sexual, a maioria apenas crianças, os desculpem também.

Não tô entendeindo

No cinema, assistindo a “Revelações” — um bom filme com Anthony Hopkins e Nicole Kidman.

Atrás de mim um grupo de moças, de seus 20 e poucos anos, conversa. Uma delas, mal educada ao extremo, fala alto demais. Fico sabendo que seu sonho, por enquanto, é casar com um médico.

Irritado, me viro e lembro a ela que falando alto daquele jeito não conseguiria casar com nenhum médico.

Quando o filme acaba a moça que fala alto exclama: “Eu não entendi nada”.

E então fico com vergonha por ela, ao mesmo tempo em que penso que, se falasse menos e prestasse mais atenção ao filme, ela talvez conseguisse entender alguma coisa.

A segunda Guerra de Tróia

As peças que a História nos prega. Não há nada mais cruel que ela.

Eu devia ter uns 8 ou 9 anos. Estava em férias na casa de minha avó e acabei dando de cara com um livro, provavelmente de alguma enciclopédia para jovens, que falava da descoberta de Tróia por Heinrich Schliemann. A partir desse dia Tróia me fascinou, a ponto de na pré-adolescência eu pensar seriamente em me tornar arqueólogo.

E uma das perdas que mais doíam em mim era a do tesouro de Príamo em 1936. Era terrível imaginar que aquele tesouro, conservado sob a terra durante séculos e séculos, de repente tivesse sido perdido por obra humana.

Toda a minha infância e adolescência foram passadas nessa crença.

E então, quando eu já tenho mais o que fazer, quando a única história que me interessa realmente é a minha, eis que em 98, acho, chega a revelação de que o tesouro tinha sido confiscado por Hitler e saqueado pela União Soviética. Para quem se interessar, atualmente esse tesouro está em exibição no Museu Púchkin, em Moscou, e é objeto de uma disputa diplomática entre Turquia, Alemanha e Rússia.

Não gosto que mexam no meu passado. Com o tempo me acostumei à idéia, e consegui ver nessa perda um certo lirismo fatalista. O reaparecimento do tesouro de Príamo era quase como uma segunda Guerra de Tróia, perdida como foi a primeira, quando achei que o tesouro estava desaparecido.

Por que eles ousam acabar com minhas crenças de infância?

Primeiro Papai Noel, depois Rock Hudson, e agora isso.

As alegrias que o Google me dá (III)

De vez em quando penso em mudar o nome deste blog para Macondo, pelos tantos Aurelianos pedófilos e Arcadios incestuosos que vêm equivocadamente bater aqui, à procura de algo que infelizmente não posso oferecer.

Mas embora possa não parecer, além dos bobos cujas buscas insensatas os fazem dar a esta praia, o blog também atrai gente que tem interesse em coisas sérias:

capa original do livro manifesto comunista

hannah arendt

manual da maquina de escrever royal

puritanismo em alice no pais das maravilhas

Iara Iavelberg

FALO ESPANHOL CAVALO ALEMAO MULHERES ITALIANO DEUS HOMENS

roma nero cristãos arqui

coliseu cenario dos primeiros martirios de cristaos

fotos cavalos Bretões

fotos de leões tiradas por larousse

Ulysses trecho

gore vidal livro caligula

tourada espetaculo trabalho infantil

Seriados americanos de cinema das décadas 40 e 50

Vésperas + Rachmaninoff

o escritor frank gruber

“lee falk” fantasma brasil lançados

comentários CONAR direito

“Embraer X Bombardier” 2004

Livro+Branding um manual para você criar, gerenciar e avaliar marcas

historias da cidade de morro do chapeu no seculo xviii na bahia

montesquieu

Se me divirto ao ver os tarados quebrando a cara aqui, quando percebem que o blog não tem muito a oferecer, ver o mesmo acontecer a essas pessoas mais sérias me deixa triste. Infelizmente, como os bobos, os sérios também não encontram aqui o que procuram.

E eu, que não gosto de Drummond, sou obrigado a concordar com aquele chato: ainda pego o anjo torto que me mandou ser gauche na vida.

Wolfiana

O que vem a seguir não é exatamente um post, e sim um comentário deixado em Prints the Chaff.

Tenho procurado minha velha e queridíssima amiga por quase 30 anos. (…)

Com meus botões eu a imaginava casada, com filhos, e talvez morando em uma bela casa, em algum lugar. Em vez disso eu tive a maior decepção de minha vida. Minha amiga estava morando como uma sem-teto nas ruas de São Francisco. (…)

Poderia acontecer a qualquer um. Nem em meus sonhos mais delirantes jamais imaginei minha amiga como uma viciada sem-teto empurrando um carrinho, segurando um cartaz pedindo dinheiro, portando HIV e tudo o que mais que vem com essa “Doença dos Sem-Teto”. Chamo assim porque é como vejo — uma doença. (…)

Só mais uma coisa: minha amiga, que agora vaga por São Francisco, estava a caminho da competição de ginástica nas Olimpíadas, e era também uma grande líder de torcida, era muito bonita, mascote da equipe de animadoras de torcidas, líder de classe e muito mais. A Doença dos Sem-Teto não discrimina.

Como dizia Tom Wolfe, você não pode voltar para casa.

Eastern Standard Tribe

Cory Doctorow é um escritor de ficção científica. Seu segundo livro, Eastern Standard Tribe, foi lançado essa semana, e pode ser comprado na Amazon.

Mas além disso, o livro pode ser baixado gratuitamente aqui, no blog deste seu criado.

Não, eu não estou roubando Doctorow, nem pirateando o seu trabalho. Ele lançou seu livro sob uma licença da Creative Commons, uma tentativa de atualizar o sistema de copyright a um mundo totalmente diferente. Isso quer dizer que qualquer pessoa pode baixar e ler o seu livro. É uma experiência muito interessante, que vale a pena acompanhar e que até agora deu certo, como as vendas do seu primeiro livro podem atestar.

No site de Doctorow, se alguém se interessa, está uma justificativa de suas razões para liberar o livro, e um debate interessante sobre direitos autorais.

História e Hollywood

Assistindo de novo a “Viva Zapata!”, filme de 1952. Tinha tudo para ser maravilhoso: dirigido por Elia Kazan, escrito por John Steinbeck e estrelado por Marlon Brando e Anthony Quinn.

Mas eu não gosto do filme, não gosto sequer da atuação de Brando: o filme vale a pena apenas pelo desempenho de Quinn. E agora ele me deixou pensando em mais uma daquelas tantas coisas que me enchem o saco.

“Viva Zapata!” é um amontoado de inverdades históricas. Retrata Zapata como um analfabeto miserável e carismático, cria uma imagem voluntarista para a Revolução Mexicana. A verdade é que Zapata nunca foi pobre (nunca foi rico, entretanto), e foi bastante influenciado pelo anarquismo. Sua ação política, se radical em suas reivindicações de reforma agrária e táticas utilizadas, foi conseqüente e até inteligente.

O ruim em aprender história com os professores de Hollywood é que se tem, sempre, uma imagem falsa do que é a história. Não apenas por causa da “licença poética”, mas também porque eles se esforçam em transmitir uma imagem individualista de fenômenos históricos, normalmente com um viés imperialista.

Sem contar quando resolvem simplesmente jogar estrume na história. Eu, por exemplo, saí do cinema após ver “Gladiador” nauseado por ver aquela Roma que parece ter saído de um cenário de “Guerra nas Estrelas” e pelo desprezo com que trataram a história.

Mesmo assim estou esperando para ver “Tróia”. Os muros da cidade não parecem ter nenhuma relação com as ruínas que Schliemann descobriu. Mas eu sou que nem mulher de malandro, fazer o quê?

E, infelizmente, eu conheço gente demais que aprendeu história com esses filmes.

Diálogo rápido e instrutivo no MSN Messenger

Fulano diz:
lindo vc na foto

Fulano diz:
tá ruim demais veio 🙂

Rafael diz:
Eu sou lindo, mas não é pro seu bico, baitola. 🙂

Fulano diz:
hahahhahhahaha

Fulano diz:
pensei que vc tinha saido nas cajuranas hoje

Rafael diz:
Não, eu não queria ofuscar o seu brilho. 🙂

Rafael diz:
Qual sua fantasia?

Fulano diz:
hahhaa

Rafael diz:
“Esplendor de Serigy em noite de lua cheia”?

Fulano diz:
eu saio todo ano veio

(…)

Fulano diz:
vou sair não sou um cara sério

Fulano diz:
hehehe

Fulano diz:
noivo hehehe

Rafael diz:
Sério?

Rafael diz:
Quem é o felizardo?

Rafael diz:
Ele é um homem direito, de bem?

Rafael diz:
Ele não bate em você, né?

Fulano diz:
hahahaa

Duvido que a noiva dele gostasse de mim.

(Glossário: Cajuranas é um bloco carnalesco com de homens vestidos de mulher, nos moldes das Muquiranas de Salvador.)