Ontem um evento desagradável com a Mônica sobre Cauby Peixoto.
A Mônica é autora de um dos meus blogs preferidos, é inteligente como poucas pessoas. Escrevendo, ela vai a lugares onde nunca ponho os pés.
Ela só tem um problema: por alguma dessas loucuras em que as pessoas às vezes condescendem, prefere Chico Buarque cantando “Bastidores” a Cauby Peixoto. Diz a mulher que Cauby estraga a canção com seu exagero.
Ah, Mônica… Mas é justamente isso que faz da interpretação de Cauby algo primoroso e único…
Preste atenção à letra. Ela é desbragadamente viada, escancarada, é música que só poderia ser interpretada por Cauby. É para ser over, mesmo. Over como o bolerão de puteiro que é. De que outro jeito se pode transmitir a idéia de que “tomei um calmante, um excitante, um bocado de gim”, porque está tão atordoado e magoado que procura soluções disparatadas e imediatas que nunca aparecerão? Fale a verdade: você consegue imaginar Chico Buarque se despedaçando porque uma mulher o abandonou? Ah, não. Nunca. Ele simplesmente beberia outra dose — de uísque, não de gim.
“Bastidores” mostra um cantor se dilacerando no palco, rasgando sua alma porque foi abandonado; é alguém que jamais terá vergonha de mostrar suas emoções, mas que as sublima cantando.
Ninguém mais poderia cantar essa música, Mônica. Ninguém além de Cauby, kitsch, brega, desavergonhado. Porque só Cauby consegue encontrar consolo nos bêbados febris se rasgando por ele.
A sensibilidade da Mônica é muito refinada para que ela perceba a verdade que há na breguice desvairada de Cauby.