Pro Stupidity

Eis o texto de um anúncio finalista do anuário do Art Director’s Club de Nova York, 1993:

Vote now or forever hold your sperm.
If George Bush and the anti-choice movement have their way, the right to a safe, legal abortion will be history. This leaves you with two options. You can either vote for Pro Choice candidates on November 3rd. Or you can abstain. Vote Pro Choice.

O anúncio foi criado por uma das melhores agências da história, a Chiat|Day. E é um dos melhores exemplos de estupidez que já vi.

A idéia de que o aborto é uma solução simples para uma gravidez indesejada assusta, pela sua irresponsabilidade e canalhice. E me parece um tiro no pé.

Antes de mais nada, o aborto deve ser um direito de cada mulher. Há vários argumentos para isso, principalmente no Brasil, geralmente sociais. Mas a essência é simples: as pessoas devem ter o direito de escolher se querem ter um filho ou não.

Mas um direito não significa uma obrigação, e muito menos uma justificativa para que se aja com a mais insensata irresponsabilidade.

A questão é que de acordo com esse anúncio o pessoal do Pro Choice parece um bando de imbecis assassinos. Infelizmente, o pessoal do Pro Life parece ser constituído de imbecis ainda maiores, porque um anúncio desses era uma chance e tanto de desqualificar qualquer lobby dos “fazedores de anjos”.

A propósito, eles têm várias outras opções, e não apenas a abstinência. Camisinha, pílula, DIU, diafragma são apenas algumas delas.

Leio esse anúncio de vez em quando, há vários anos. Só para me certificar do nível de idiotice a que o mundo pode chegar. E a verdade é que até hoje não consegui me acostumar.

O aprendiz de guerrilheiro

Deixa ver por onde começo: o menino de 14 anos resolveu ser guerrilheiro das FARC colombianas para combater o capitalismo, e durante 3 meses economizou 1000 reais do dinheiro que papai e mamãe lhe davam para ir ao shopping e sair com os amigos. Fugiu mas “caiu” em Manaus, e voltou para casa onde foi recebido com beijos do papai e da mamãe e brigadeiro, seu doce predileto, da vovó.

Agora deixa eu colocar as coisas nos meus termos.

Segundo os depoimentos da família, o debilóide pirou depois que foi assaltado, há cerca de um ano. Devem ter dado uma coronhada na cabeça dele, sei lá. Só pode ser isso. É como posso explicar as ações desse babaca.

Algumas coisas me impressionaram nessa história. A decisão do retardado de se juntar às FARC demonstra uma ignorância profunda, sim, mas também uma burrice descomunal. Ignorância por não saber das ligações entre guerrilha e tráfico, e burrice porque há jeitos melhores de se combater a violência. O que esse mongolóide queria era ser herói, só isso. Pode ser um demente que não duraria 15 dias na selva, mas querer ser herói é direito de todos.

É curioso, e até irritante, que o idiota possa economizar mais de 300 reais por mês do dinheiro do seu lazer. É mais do que dezenas de milhões de brasileiros conseguem ganhar em um mês inteiro de trabalho duro. E é esse menino de classe média, talvez classe média alta, filho de um casal que aparentemente tem se dado bem no sistema, que resolveu “combater o capitalismo”, só porque foi assaltado e viu a violência de perto. Tem gente que tenta se suicidar para chamar a atenção; ele resolveu ser guerrilheiro.

Que me desculpem seus pais, mas esse menino é só um garoto mimado e voluntarioso. E burro, imensamente burro, burro até dizer chega. No lugar de seus pais, uma pessoa com juízo daria a ele algumas sessões num psicólogo, em vez de brigadeiros. Mas, antes, daria-lhe uma surra homérica.

Henfil

Mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa.

Durante muitos, muitos anos, não consegui ver graça em Henfil. Achava que era um produto da cultura de resistência intelectual à ditadura, em que coisas pequenas e medíocres assumiam proporções de quase gênio somente por estarem do lado certo do espectro político.

A gente consegue ser tão idiota de vez em quando. Ou, pelo menos, eu consigo.

Só depois de passar a ler a republicação de suas tiras n’O Globo é que percebi a genialidade de Henfil. A capacidade de brincar com temas sérios, a leveza e concisão do traço, que antes me parecia poluído e tosco, são brilhantes.